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Aécio perdeu nos detalhes – linguagem corporal

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Tempo de leitura: 5 min.

Há pouco mais de uma semana, no dia 16 de outubro, publiquei artigos alertando que certas expressões faciais e a linguagem corporal de Aécio poderiam comprometer negativamente o resultado da sua campanha.

Àquela época, argumentei que as expressões de desprezo, cuja frequência estava fora de qualquer escala que eu já tenha visto, poderiam render a antipatia do ELEITORADO INDECISO.

O duping delight e o seu efeito emocional devastador no eleitorado indeciso

Analisei a ocorrência de uma expressão facial conhecida como duping delight, que defini como:

O duping delight é um prazer proveniente do êxito de uma estratégia ou mesmo da antecipação psicológica desse êxito, não necessariamente associado ao ato de enganar. É demonstrado pelo soriso discreto, unilateral que pode ser visto na foto do candidato, acima.Sergio Senna
O eleitorado indeciso é afetado negativamente pelas expressões de desprezo, principalmente por aquelas carregada de uma mensagem emocional não-consciente e não-verbal que possam ser entendidas como soberba ou  superioridade presumida.

duping-sbt-10Alertei para o fato de que, de forma diferente dos correligionários, os indecisos são afetados negativamente pelas expressões de desprezo. As pessoas que não têm compromisso emocional com Aécio Neves acabam sentindo uma certa aversão por essas expressões de narcisismo e orgulho soberbo…. Isso pode ocorrer pois cada um de nós já foi vítima de alguém assim,  provocando a evocação de memórias de experiências anteriores nada agradáveis. Ao ver as expressões, essa memória emocional é evocada e associada imediatamente ao candidato.

Esse fenômeno não tem nenhuma relação com a competência, com o preparo ou a experiência de Aécio Neves. Ocorre em nível emocional…. Daí a importância dessas minhas observações.

Potencial de votos que foram disputados e a rejeição

Datafolha-17.07-rejeição-480x256Fui acompanhando os debates na televisão e percebendo que, diante de tantos indicadores de desprezo e superioridade presumida, o eleitor indeciso tenderia a sentir AVERSÃO, o que poderia resultar em um aumento da rejeição ao candidato Aécio Neves, o que efetivamente ocorreu ao longo do segundo turno. Vejamos os números das pesquisas:

No primeiro turno, Aécio tinha apenas 17% de rejeição, confira na figura ao lado.

No segundo turno, segundo pesquisa do Instituto Datafolha, de 23 de outubro, Aécio, que tinha 34% de rejeição duas semanas antes do pleito. No final, subiu para 41% (7 pontos de acréscimo) e Dilma que tinha 43% na mesma data inicial, caiu 6 pontos, passando para 37%.

rejeicao

Acompanhando a série histórica da rejeição, Aécio estava muito bem, pois nunca teve uma rejeição tão baixa. Em um curto período de tempo, ela mais do que dobrou. O que eu explico, entre outros motivos, pela sua própria postura verbal e não-verbal do candidato diante do eleitorado indeciso.

É muito curioso esse aumento significativo da rejeição a Aécio, apesar de sua excelente oratória, traquejo no trato político e da experiência nesses assuntos pelos diversos cargos exercidos ao longo de sua vida.

Essa variação deve ser explicada de forma multidimensional, foram vários fatores que contribuíram para que isso ocorresse. Entretanto, em minha opinião, um dos aspectos principais foi o impacto das expressões faciais, da paralinguagem durante as falas de desprezo apresentadas em elevada frequência pelo candidato durante toda a campanha do segundo turno.

Vejamos os dados numéricos da eleição para fazermos um raciocínio sobre a quantidade de votos recebidos pelos candidatos (e a de votos evadidos também):

1º Turno

Votos nulos e brancos

11.099.081

Ausentes

30.108.206

Votaram em outros

23.788.805

Total Disponível

64.996.092


2º Turno - Total disponível para ser disputado 64.996.092

Votos nulos e Brancos

7.135.523

Ausentes

30.137.165

Total    

37.272.688


Ao final dessa matemática, podemos observar que houve um mínimo acréscimo na quantidade de pessoas que resolveram não se apresentarem para votar (apenas cerca de 3o mil pessoas). Aécio conseguiu atrair 16.143.799 votos a mais e Dilma conseguiu 11.232.233 adicionais no 2º turno.

O que chama a atenção é a quantidade de votantes em nulo e em branco que decidiram declarar seus votos. Foram cerca de 4 milhões de pessoas que saíram da beira do muro para definirem a sua opinião.

Se considerarmos que a diferença final de votos entre Aécio e Dilma foi de 3.459.963, o fenômeno que indiquei começa a fazer mais sentido ainda, sendo possível e até provável que as emoções aversivas eliciadas no ELEITORADO INDECISO tenham sido um motivador para a definição do seu voto desfavoravelmente a Aécio.

Em minha opinião, o beijo da aversão foi determinante para o aumento da rejeição ao candidato Aécio Neves. Uma parte dos votos recebidos por Dilma vem de eleitores de outros candidatos de extrema esquerda do 1º turno, mas Aécio deve ter perdido muitos votos dos eleitores de Marina Silva.

O 2º turno eleitoral, fase da campanha que se caracteriza pelo trabalho do marketing para aumentar a REJEIÇÃO ao outro candidato, não pode contar com a colaboração do próprio atacado..... Foi o que entendo ter ocorrido com o candidato Aécio Neves.

É obvio que esse não foi o único fator, mas tenho convicção que foi DECISIVO, conforme indiquei cerca de duas semanas antes do pleito.

A história se repete

No artigo, Aécio Neves e o Duping Delight, indiquei que  Cristovam Buarque havia perdido uma eleição no Distrito Federal em 1998 exatamente por essa mesma razão......

rorizecristovamÀquela época, em um debate tumultuado, Cristovam pergunta a Roriz sobre como ele iria conseguir dinheiro para a construção da estação de tratamento de água de Santa Maria. O ex-governador respondeu que isso seria possível por causa da sua relação pessoal com o presidente Fernando Henrique. Cristovam, então, replicou dizendo que a obra já havia sido inaugurada. “Como é que o senhor conseguiria convencer o governo federal a lhe dar o dinheiro para construir uma obra que já está feita, que eu inaugurei em julho?”. Roriz defendeu-se, ao perceber a armadilha, dizendo que Santa Maria precisava de mais estações de tratamento.

Além disso, durante a campanha ocorreram correções até mesmo sobre o uso da Língua Portuguesa.... Sarcasmo, deboche, desprezo funcionam muito bem para levantar o ânimo dos correligionários e para provocar raiva nos opositores. No ELEITORADO INDECISO, o efeito é AVERSÃO  a quem usa essas estratégias.

O resultado é o que todos conhecem: Cristovam perdeu a eleição.

Conclusão

Agora, resta refletir com honestidade. Rever as dicas dos "marketeiros" de plantão e entender que a percepção do eleitorado vem mudando. Por conseguinte, os métodos de campanha também precisam mudar. É necessário atentar para a importância das expressões faciais na COMUNICAÇÃO DAS EMOÇÕES (da comunicação não-verbal como um todo). Não adianta ler um livrinho de auto-ajuda nesse assunto e ir ensinar os políticos.

Com certeza, o excesso de sarcasmo, de deboche e de desprezo foram a causa do desastre do candidato Aécio Neves na fase final de uma campanha que tinha todas as condições de ser vitoriosa.

Quem sabe um pouco mais de ciência e menos marketing intuitivo seja uma boa opção para a próxima tentativa?

Um abraço

Sergio Senna

 


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PIRES, Sergio Fernandes Senna. Aécio perdeu nos detalhes – linguagem corporal. Instituto Brasileiro de Linguagem Emocional. Disponível em < https://ibralc.com.br/aecio-perdeu-nos-detalhes-linguagem-corporal/> . Acesso em 28 Mar 2024.

Formato Documento Eletrônico (APA)

Pires, Sergio Fernandes Senna. (2014). Aécio perdeu nos detalhes – linguagem corporal. Instituto Brasileiro de Linguagem Emocional. Recuperado em 28 Mar 2024, de https://ibralc.com.br/aecio-perdeu-nos-detalhes-linguagem-corporal/.

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2 comentários em “Aécio perdeu nos detalhes – linguagem corporal”

  1. A linguagem corporal pode ter sido um dos fatores que fizeram Aécio perder as eleições, mas não está longe de ser o principal. Aécio, e por sinal o PSDB como um todo – basta reparar, por exemplo, no Alckmin e no José Serra -, não sabe travar a guerra política (algo que o PT é mestre). Enquanto o PT atacava, o PSDB só se preocupava em defender-se. O Luciano Ayan escreveu vários interessantes sobre a guerra travada, na qual João Santana consagrou-se vitorioso; vale a pena ver os artigos.

    Em relação à oratória do Aécio, ela é relativamente boa, mas ele peca em não saber falar para o público-alvo. Ele usa, por exemplo, palavras demasiadamente complicadas que, junto com o seu aspecto de “playboy” (rótulo criado pelo PT na guerra política), só demonstram para o público o quanto ele supostamente estava sendo soberbo. Saul Alinsky quando escreveu as 12 regras para radicais na guerra política, assim mencionou na sua segunda regra: “Nunca vá além da experiência de seu grupo.” Com certeza o Aécio não levou isso em consideração.

  2. Um outro detalhe com relação ao Aécio Neves, além do detalhe dele estar em postura de arrogância. Todo vez em que ele começava a dar uma entrevista o mesmo a fazer um discurso ele posicionava um dos pés para trás ajeitando o seu corpo e olhava para cima muito pouco. Parecia que ele estava lendo um texto já decorado, que não fazia parte de suas convicções. Para mim isto ficou muito evidente.

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