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A linguagem corporal é importante para os políticos e candidatos?

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Tempo de leitura: 5 min.

é importante saber que a linguagem corporal é importante para os políticos e candidatos. O domínio avançado da comunicação não verbal é fundamental para o êxito de políticos.

Seja na fase eleitoral, seja em momentos posteriores, o político necessitará atuar como negociador e como procurador das aspirações de seus eleitores.

Para tanto, a correta reafirmação de suas mensagens verbais nos domínios da linguagem corporal é muito importante.

Além disso, saber posicionar-se  nos ambientes e conhecer as possíveis mensagens não verbais que são sinalizadas para as pessoas tem significativa importância para que uma negociação seja bem sucedida.

Uma boa parte do trabalho como procurador dos interesses dos eleitores se baseia em perceber a relevância e urgência dos temas a serem tratados.

Essa percepção é ampliada pela correta interpretação dos indicadores não verbais. Além disso, a comunicação não verbal tem algumas funções.

Campos da comunicação não verbal na política

Tradicionalmente, são quatro os campos de estudo da CNV. Entretanto, essa quantidade vem sendo constantemente ampliada tendo em vistas as necessidades da pesquisa científica (HALL; HORGAN; MURPHY, 2019). A paralinguagem estuda como as características acústicas da voz e a forma como se dá a articulação vocal das palavras e os significados que essas variações podem produzir. O tom da voz, as pausas, a frequência, a altura, a variação desses parâmetros produz diferenças em como interpretamos, conjuntamente, as mensagens vocais.

O estudo da aparência física se dedica a entender como a interpretação dos interlocutores pode ser influenciada por adereços, roupas, características físicas etc.

A proxêmica estuda como as estruturas, o mobiliário, a disposição física de objetos e do corpo podem influir no processo comunicativo.

A cinésica estuda a dinâmica do movimento, onde encontramos o que popularmente se chama de linguagem corporal e o estudo das expressões faciais. Além dessas tradicionais, encontramos trabalhos envolvendo os odores (MUTIC et al., 2016), o toque (HALL; GUNNERY, 2013), o espaço interpessoal (LEONGOMEZ et al. 2017), entre outros.

 

Funções da comunicação não verbal

Quando recorremos a textos sobre a história da comunicação não verbal, identificamos a existência da identificação da sua importância desde a Antiguidade Clássica. Knapp (2006) nos indica que a atenção inicial sobre a CNV foi desenvolvida no contexto da oratória e do estudo da persuasão, disciplinas muito relevantes para a sociedade grega daquela época.

De certa forma, ainda hoje há interesse sobre esse ponto de vista funcional no uso da CNV. Paul Ekman é um dos cientistas de referência nesse campo. Parecendo ter o foco na gesticulação e na sua influência em conjunto com a verbalização, propôs uma lista de seis funções principais (EKMAN, 2004a): (1) repetição e ênfase da mensagem verbal; (2) contradição do que foi verbalizado; (3) complementação; (4) substituição; (5) regulação do fluxo verbal; (6) sinalização das relações de poder no espaço físico. Como podemos notar, essa lista de funções está mais associada a situações em que a CNV aparece em concomitância com a comunicação verbal, do que ao seu emprego isolado.

Para repetir uma mensagem, utiliza-se um gesto ilustrador afirmativo (polegar para cima), por exemplo, logo em seguida da mensagem verbal afirmativa. Para enfatizá-la, basta apresentar esse mesmo gesto simultaneamente àquilo que a se dizer.

Um exemplo clássico de contradição da mensagem verbal consiste em afirmar o apreço por determinada pessoa ou causa, mas demonstrar expressões faciais de desprezo ou raiva enquanto fala. Outro caso muito comum, é dizer que “não está nervoso”, entretanto fazê-lo com uma entonação enfática, elevar o volume da voz e gesticular amplamente.

Gestos e expressões faciais podem substituir a verbalização quando “nossa cara diz tudo”. Uma pessoa que chega a casa com uma expressão abatida pode comunicar que teve “um dia e tanto”, sem dizer uma palavra.

A regulação do que estamos dizendo se dá pela sinalização dos momentos pelos gestos. Acenar para uma pessoa esperar para falar é um exemplo, assim como utilizar o silencio como promotor da narrativa de alguém.

Além disso, a CNV se estende para outras fronteiras significativamente importantes no contexto do trabalho. Trata-se de como as relações de poder se manifestam nos ambientes, na forma como organizamos nossa mobília e em como nos dispomos nesses espaços.

Um exemplo muito comum consiste na posição que nos sentamos à mesa de reuniões. Há uma hierarquia de lugares a serem ocupados e todos sabem disso. É necessário, portanto, estarmos alertas para esse mundo invisível dos significados de nossos gestos e movimentos para facilitarmos nossas interlocuções.

Ainda sobre as funções da CNV, é necessário pontuar que existem outras formas para classifica-las. O que nos parece mais direto e pertinente ao escopo desse trabalho é adotarmos a visão de Matsumoto, Hawng e Frank (2016), que as organizam em: (1) contextualização da comunicação como um todo; (2) como suplemento à comunicação verbal; e (3) como regulador de interações. Essa abordagem nos parece mais ampla do a adotada por Ekman e inclui a dimensão autônoma da CNV, quando ela não age em conjunto com a comunicação verbal.

A CNV serve para contextualizar quando canaliza a interpretação sobre como nos devemos comportar em determinado ambiente. É o caso quando entramos em uma sala de audiências cujos móveis e sua disposição nos indicam ser um ambiente formal. Templos religiosos costumam provocar esse mesmo efeito nas pessoas. Nossa aprendizagem cultural sobre como nos comportarmos socialmente, nos indica a forma adequada para interagir em cada situação específica. É o que denominamos de canalização cultural (VALSINER, 2014).

O aspecto suplementar da CNV consiste na sua interação com a comunicação verbal, reforçando-a, contradizendo-a, complementando-a, para mencionar apenas alguns dos efeitos (ou funções) possíveis, abarcando a caracterização realizada por Ekman (2004a), sobre a qual já nos referimos.

A regulação do comportamento ocorre por meio da sinalização, quando alguém deseja tomar a palavra em um debate e o mediador indica com a palma da mão esticada para a pessoa esperar.

Mais detalhes sobre isso você vê no artigo: A comunicação não verbal na política: introdução aos campos de estudo e funções

 

Persuasão e linguagem corporal

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É muito comum que as pessoas associem o conhecimento sobre comunicação não verbal à persuasão sob um ponto de vista negativo.

No entanto, essa é uma interpretação equivocada, uma vez que persuadir envolve a exposição clara de idéias legítimas de forma que pessoas livres e autônomas, diante de novos argumentos, possam tomar suas decisões.

Nesse contexto, a utilização hábil da comunicação não verbal é extremamente útil para repetir, enfatizar e complementar o que existe a ser dito, além de ser um modo único de expressar emoções que são, imediatamente, identificadas pelas pessoas.

Em minha experiência no meio político, tenho conhecido diversas personagens que possuem uma capacidade natural para utilizar e também para interpretar a linguagem corporal. Entendo que essas habilidades são, em certa medida, responsáveis pelo êxito desses políticos, que as utilizam para perceber as emoções e as necessidades de seus eleitores e, a partir daí, tomar suas providências.

É comum pensarmos que isso é ruim e somente será utilizado em prejuízo das pessoas, mas essa percepção não é, necessariamente, verdadeira. Um político honesto e bem intencionado será muito mais sensível às necessidades legítimas de seus eleitores por meio do aperfeiçoamento desses habilidades.

 

Referências

EKMAN, Paul. Emotional and conversational nonverbal signals. In: Language, knowledge, and representation. Springer, Dordrecht, p. 39-50, 2004a.

HALL, Judith A.; GUNNERY, Sarah D. Gender differences in nonverbal communication. In J. A. Hall & M. L. Knapp (Eds.), Nonverbal communication p. 639–669, 2013.

HALL, Judith A.; HORGAN, Terrence G.; MURPHY, Nora A. Nonverbal communication. Annual review of psychology, v. 70, p. 271-294, 2019.

KNAPP, Mark L. An Historical Overview of Nonverbal Research. In: The Sage handbook of nonverbal communication. Sage, 2006.

LEONGÓMEZ, J. D.; MILEVA, V. R.; LITTLE, A. C.; ROBERTS, S. C. Perceived differences in social status between speaker and listener affect the speaker’s vocal characteristics. PloS one, v. 12, n. 6, p.1-21, 2017.

MATSUMOTO, David Ed; HWANG, Hyisung C.; FRANK, Mark G. APA handbook of nonverbal communication. American Psychological Association, 2016.

MUTIC, S.; MOELLERS, E. M.; WIESMANN, M.; FREIHERR, J. Chemosensory communication of gender information: Masculinity bias in body odor perception and femininity bias introduced by chemosignals during social perception. Frontiers in psychology, v. 6, p. 1980, 2016.

VALSINER, Jaan. An invitation to cultural psychology. Sage, 2014.

 

 


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PIRES, Sergio Fernandes Senna. A linguagem corporal é importante para os políticos e candidatos?. Instituto Brasileiro de Linguagem Emocional. Disponível em < https://ibralc.com.br/linguagem-corporal-e-importante-para-os-politicos-candidatos/> . Acesso em 19 Apr 2024.

Formato Documento Eletrônico (APA)

Pires, Sergio Fernandes Senna. (2022). A linguagem corporal é importante para os políticos e candidatos?. Instituto Brasileiro de Linguagem Emocional. Recuperado em 19 Apr 2024, de https://ibralc.com.br/linguagem-corporal-e-importante-para-os-politicos-candidatos/.

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