Introdução à linguagem corporal | Comunicando sem palavras

Divulgue e opinie

A expressão linguagem corporal é usada [erroneamente] para significar a comunicação não verbal na totalidade. É comum encontrarmos na Internet que a expressão se refere a todos os métodos não-verbais de comunicação.

Não-verbais são quaisquer mensagens que as pessoas enviam sem usar palavras, incluindo uso de roupas e símbolos ou sons, o que obviamente não são “linguagem corporal”. A linguagem corporal é normalmente combinada com mensagens verbais, o que melhora a comunicação quando esses canais são congruentes.

O que é linguagem corporal?

Em muitas situações, a linguagem corporal é um dos elementos mais cruciais da comunicação. Alguns tipos específicos de linguagem corporal incluem:

  • Expressões faciais como sorrir, franzir a testa ou revirar os olhos;
  • Gestos com as mãos, como acenar, acenar para alguém se aproximar ou contar nos dedos;
  • Posturas como cair, sentar-se ereto ou inclinar-se para longe de alguém;
  • Outros tipos de sinais, como dar de ombros, bater palmas ou apertar a mão de alguém.

Quais são os principais campos de estudo da comunicação não-verbal?

Informação confiável sobre linguagem corporal não é fácil de encontrar na Internet. Pertencente a um campo bem maior de estudos, a comunicação não-verbal, a linguagem dos gestos e do corpo, juntamente com as microexpressões, representam a maior parte do comportamento não verbal observável.

São os seguintes os principais campos de estudo da Comunicação Não Verbal:

  • Cinésica;
  • Proxêmica;
  • Paralinguagem;
  • Aparência física;
  • Artefatos.

Existem outros, conforme os pesquisadores vão subdividindo essas principais áreas da comunicação não-verbal.

Cinésica

Cinésica é um sinônimo de linguagem corporal. É também o nome do campo de estudos do movimento biológico, da forma como o corpo se comunica sem palavras e pelo movimento de suas partes. Sem dúvida, expressamos nossas emoções por meio de palavras, mas frequentemente, os estados internos de emoção são expressos por meio da movimentação de diferentes partes do corpo e pelas nossas expressões faciais.

Podemos comunicar ou enviar a mensagem balançando a cabeça, piscando os olhos, encolhendo os ombros ou acenando com as mãos. Quando estudamos a cinésica, olhamos para o significado dos símbolos que os movimentos físicos do corpo estão se comunicando. Sem dúvida alguma pode-se afirmar que é um dos objetos que se pode estudar no contexto da Psicologia Cultural.

Por meio de movimentos corporais observáveis, as primeiras emoções internas são expressas. Para entendermos a expressão desses primeiros estados emocionais devemos estudar o movimento facial, os olhos, os gestos e as posturas humanas.

Proxêmica

A proxêmica é um campo da comunicação não-verbal que se concentra no estudo do espaço físico entre as pessoas e como esse espaço é usado para transmitir mensagens e significados. Essa área de estudo é fundamental para entender como as pessoas se relacionam e se comunicam, considerando não apenas o que é dito verbalmente, mas também como o espaço e a distância afetam a interação.

Edward T. Hall, um antropólogo cultural norte-americano, desempenhou um papel pioneiro na pesquisa e na formulação de teorias sobre proxêmica. Seus estudos revolucionaram a compreensão da comunicação interpessoal, destacando a importância do espaço e da distância nas interações humanas.

A importância dos estudos de Edward Hall na proxêmica inclui:

  1. Cultura e Comunicação: Edward Hall enfatizou que as normas culturais desempenham um papel fundamental na determinação de como as pessoas usam o espaço em suas interações. Diferentes culturas têm diferentes noções de espaço pessoal e distância interpessoal. Compreender essas diferenças culturais é crucial para uma comunicação eficaz em contextos multiculturais.
  2. Zonas de Espaço: Hall categorizou o espaço em quatro zonas: a zona íntima, a zona pessoal, a zona social e a zona pública. Ele observou que a proximidade física ou distância em relação a alguém dentro dessas zonas pode influenciar a natureza e a qualidade da comunicação. Por exemplo, a proximidade excessiva em uma conversa pode causar desconforto, enquanto a distância excessiva pode sinalizar frieza ou indiferença.
  3. Expressão de Relações e Status: Hall também argumentou que a proxêmica é uma ferramenta para expressar relações sociais e hierarquias de status. Por exemplo, a proximidade física pode indicar proximidade emocional ou hierarquia social. A compreensão dessas nuances ajuda a interpretar melhor as interações humanas.
  4. Estratégias de Comunicação: Os estudos de Hall também destacaram como as pessoas usam conscientemente o espaço para alcançar objetivos de comunicação. Isso pode incluir a manipulação do espaço para criar um ambiente acolhedor, estabelecer autoridade ou sinalizar limites pessoais.

Os estudos de Edward T. Hall na área da proxêmica são fundamentais para a compreensão da comunicação não-verbal e da influência do espaço nas interações humanas. Eles oferecem insights valiosos para a comunicação eficaz em contextos diversificados, auxiliando as pessoas a interpretar melhor os sinais não-verbais e a adaptar sua comunicação de acordo com as normas culturais e as necessidades específicas de cada situação. Compreender e aplicar esses conceitos pode melhorar significativamente a qualidade das interações interpessoais e a compreensão intercultural.

Saiba mais sobre isso: Diga-me onde sentas, e te direi quem és | A proxêmica na vida real.

Paralinguagem

A paralinguagem é um aspecto importante da comunicação não-verbal que se refere a todas as características da fala que acompanham as palavras, mas não são as próprias palavras. Essas características da voz desempenham um papel crucial na interpretação e compreensão das mensagens transmitidas, influenciando a comunicação de várias maneiras. Alguns dos principais elementos da paralinguagem incluem:

  1. Tom da Voz: O tom de voz se refere à qualidade emocional da fala. Pode indicar emoções como alegria, tristeza, raiva, surpresa, entre outras. Por exemplo, um tom de voz animado pode indicar entusiasmo, enquanto um tom triste pode expressar melancolia. O tom de voz é essencial para transmitir o significado emocional de uma mensagem.
  2. Entonação: A entonação se relaciona com o padrão de variação tonal na fala. Ela pode sinalizar o final de uma frase, uma pergunta, uma afirmação ou um comando. Uma entonação inadequada pode levar a mal-entendidos, já que a entonação frequentemente muda o significado de uma sentença.
  3. Velocidade da Fala: A velocidade da fala pode indicar níveis de excitação, impaciência ou calma. Falar rapidamente pode demonstrar pressa ou ansiedade, enquanto falar devagar pode sugerir ponderação ou enfatizar a importância do que está sendo dito.
  4. Volume da Voz: O volume da voz está relacionado ao quão alto ou baixo alguém fala. Falar alto pode indicar intensidade emocional, como raiva ou entusiasmo, enquanto falar baixo pode expressar confidencialidade ou desânimo.
  5. Pausas e Silêncio: O uso de pausas e silêncios na fala pode ser tão significativo quanto as palavras faladas. Uma pausa estratégica pode enfatizar uma ideia ou permitir que o interlocutor processe informações. Por outro lado, silêncios prolongados podem criar desconforto ou indicar hesitação.
  6. Ritmo da Fala: O ritmo da fala se refere à regularidade ou irregularidade das palavras e frases em uma conversa. Um ritmo rápido pode demonstrar empolgação, enquanto um ritmo lento pode sugerir calma ou reflexão.
  7. Ênfase e Ênfase de Palavras: O destaque de palavras ou frases específicas na fala pode influenciar o significado da mensagem. A ênfase adequada pode esclarecer ou destacar a importância de determinadas informações.

A paralinguagem desempenha um papel fundamental na comunicação, pois complementa e enriquece o conteúdo verbal. Ela pode ajudar a transmitir emoções, intenções e nuances que não são completamente expressas pelas palavras.

Portanto, entender e ser sensível à paralinguagem é essencial para uma comunicação eficaz, seja em situações pessoais ou profissionais.

O contexto e a combinação de vários elementos da paralinguagem, juntamente com as palavras faladas, são cruciais para interpretar adequadamente as mensagens e estabelecer conexões significativas com os outros.

Saibra mais sobre isso: Sussurros não-verbais | Compreendendo a paralinguagem em nossas interações

Aparência Física

O estudo da aparência física na comunicação não-verbal é uma área de pesquisa que examina como a aparência externa de uma pessoa influencia as percepções, julgamentos e interações sociais. A forma como nos apresentamos, incluindo nossa aparência, vestimenta, expressões faciais e gestos, desempenha um papel significativo na maneira como os outros nos percebem. Alexander Todorov é um cientista que contribuiu significativamente para esse campo de estudo.

Alexander Todorov é um psicólogo e pesquisador conhecido por seu trabalho na área de julgamentos baseados em aparência física e primeiras impressões. Alguns dos pontos-chave sobre a importância dos estudos de Todorov e do estudo da aparência física na comunicação não-verbal incluem:

  1. Julgamentos Rápidos: Todorov e sua equipe realizaram pesquisas que demonstraram como os julgamentos baseados na aparência ocorrem de forma rápida e automática. As primeiras impressões são formadas em questão de milissegundos. Isso significa que as percepções iniciais das pessoas são frequentemente influenciadas pela aparência física antes mesmo de qualquer interação verbal significativa.
  2. Influência nas Decisões: A pesquisa de Todorov mostrou que as primeiras impressões com base na aparência física podem influenciar decisões importantes, como a seleção de candidatos em entrevistas de emprego ou a avaliação de um possível parceiro romântico. Essas impressões podem impactar significativamente as oportunidades e relações interpessoais.
  3. Conceitos Sociais e Estereótipos: A aparência física também está relacionada a conceitos sociais e estereótipos. As pessoas tendem a fazer associações entre características físicas, como simetria facial, expressões faciais e vestimenta, e traços de personalidade, competência, confiabilidade e até mesmo características morais. Esses estereótipos podem afetar profundamente como as pessoas são tratadas e percebidas na sociedade.
  4. Percepções de Confiança e Competência: A pesquisa de Todorov e outros cientistas revelou que a simetria facial, a expressão facial e outros traços faciais desempenham um papel importante na percepção de confiança e competência. Pessoas com traços faciais considerados mais simétricos tendem a ser percebidas como mais confiáveis e competentes.

Em resumo, o estudo da aparência física na comunicação não-verbal destaca como as primeiras impressões baseadas na aparência desempenham um papel significativo em nossas vidas cotidianas.

Essas primeiras impressões podem influenciar a forma como as pessoas são tratadas e as oportunidades que recebem.

Portanto, a pesquisa de Alexander Todorov e de outros estudiosos nesse campo contribui para a compreensão de como as características físicas impactam nossa comunicação e interações sociais. Isso ressalta a importância de promover julgamentos mais justos e conscientes, evitando o uso excessivo de estereótipos baseados na aparência.

Saiba mais: Aparência física e a linguagem corporal | Compreendendo as conexões

E faça o teste da primeira impressão: Teste da aparência física | Descobrindo preconceitos inconscientes

Artefatos

O estudo dos artefatos na comunicação não-verbal se concentra na análise de objetos ou acessórios que as pessoas usam, bem como na influência de características ambientais, como arquitetura, na comunicação e no comportamento humano. A utilização de artefatos, como bolsas, uniformes, símbolos religiosos e o ambiente construído, pode influenciar nossas percepções e comportamentos de várias maneiras. Aqui estão alguns exemplos significativos:

1. Acessórios e Artefatos Pessoais:

  • Bolsas e Mochilas: O tamanho, o estilo e a forma das bolsas e mochilas que as pessoas usam podem transmitir informações sobre sua personalidade, preferências e até mesmo sua profissão. Por exemplo, uma bolsa de designer pode indicar um alto status social, enquanto uma mochila esportiva pode sinalizar um estilo de vida ativo.
  • Uniformes: Uniformes são artefatos que indicam afiliação a uma organização, profissão ou grupo. Eles têm o poder de influenciar a percepção das pessoas sobre a autoridade, competência e confiabilidade de alguém. Por exemplo, um médico em seu jaleco branco pode ser automaticamente associado à expertise na área de saúde.
  • Símbolos Religiosos: A exibição de símbolos religiosos, como crucifixos, quipás ou hijabs, pode influenciar a maneira como as pessoas são percebidas em termos de suas crenças religiosas. Isso pode levar a preconceitos ou estereótipos, mas também pode ser uma forma de expressão e identidade religiosa.

2. Arquitetura e Ambiente Físico:

  • Muros e Barreiras Físicas: A arquitetura que inclui muros e barreiras físicas pode afetar a dinâmica social e as percepções de segurança. Por exemplo, a presença de cercas altas ou muros sólidos em uma área residencial pode criar uma sensação de isolamento e exclusão, enquanto a falta de barreiras pode promover a sensação de comunidade.
  • Passagens Estreitas: A largura de corredores, portas e passagens influencia o comportamento das pessoas. Passagens estreitas podem criar desconforto e afetar a fluidez do tráfego humano, influenciando a maneira como as pessoas interagem umas com as outras.
  • Espaços Abertos e Acolhedores: A arquitetura também pode influenciar as percepções de espaços como acolhedores e convidativos. Uma praça aberta, com bancos e áreas verdes, pode promover interações sociais e um senso de comunidade, enquanto um ambiente deserto e hostil pode ter o efeito oposto.

O estudo dos artefatos na comunicação não-verbal destaca como objetos, acessórios e o ambiente físico ao nosso redor têm um impacto profundo em nossas percepções e comportamentos. A forma como usamos artefatos pessoais e a maneira como o ambiente é projetado podem influenciar a maneira como somos percebidos pelos outros e como interagimos em diferentes contextos. Conscientizar-se desses elementos é fundamental para uma comunicação mais eficaz e para a promoção de ambientes que incentivem interações positivas e inclusivas.

É na cinésica que encontramos os gestos, os movimentos e as expressões faciais que materializam a linguagem corporal. Veja, então, como a ciência nos mostra que o corpo fala por meio dos gestos e das expressões faciais:

Canais de comunicação

A comunicação não-verbal é importante, pois pode melhorar os seus relacionamentos. Isso ocorre porque a comunicação não-verbal positiva – como sorrisos, contato visual e certos tipos de gestos e toques – comunica emoções e transmite a mensagem de que você se importa com quem está falando.

Você estará, então, abrindo novos canais de comunicação que reforçam as emoções tão importantes para o seu desenvolvimento. Nesse contexto, uma comunicação não-verbal positiva também colabora para o nosso amadurecimento emocional.

Esses são os canais verbais e não-verbais que você pode utilizar para estabelecer vínculos:

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Como você pode ver, há muito o que utilizar. A comunicação não-verbal também é importante para te ajudar a se relacionar e se dar bem com outras pessoas, o que é uma habilidade importante para a vida. Por exemplo, se você usar uma linguagem corporal afetuosa e carinhosa com seu aluno ou filho, isso o ajudará a aprender a expressar as mesmas emoções que você demonstra como amor, por exemplo.

Se você parar o que está fazendo para ouvir quando uma criança quer falar, isso mostra a ela como dar atenção às pessoas.

De forma semelhante, a comunicação não-verbal negativa pode enviar a mensagem de que você não se importa ou não quer utilizar o seu tempo com a pessoa. Elas podem se sentir rejeitadas ou desapontadas e essa internalização pode ocorrer de forma não consciente ao longo do tempo, se posicionando na raiz dos diversos problemas que se manifestam nas relações.

Conheça mais sobre os canais de comunicação

A comunicação eficiente é uma habilidade fundamental em nossas vidas, tanto no âmbito pessoal quanto profissional. Para estabelecer relacionamentos sólidos, transmitir informações de forma clara e influenciar positivamente, é essencial que se dominem diversos canais de comunicação. Aqui, destacaremos a importância da utilização eficiente de seis deles: a (1) expressões faciais; o (2) conteúdo verbal; (3) a interação; (4) a voz, (5) a linguagem corporal; e (6) o estilo verbal.

  1. Expressões Faciais (Face): O rosto é um espelho das nossas emoções. Sorrir transmite calor e receptividade, enquanto uma expressão séria pode sinalizar seriedade ou concentração. Uma expressão facial positiva promove um ambiente acolhedor;, encoraja a comunicação aberta e transmite empatia.

  2. Conteúdo Verbal: A escolha das palavras e a estrutura da mensagem são cruciais. Utilizar uma linguagem clara e precisa é fundamental para evitar mal-entendidos. Além disso, o conteúdo verbal deve ser adaptado ao público-alvo, garantindo que a mensagem seja compreendida e relevante.

  3. Interação: A comunicação não é unidirecional; é uma troca de informações. Ouvir ativamente e responder às perguntas, preocupações e feedback dos interlocutores é essencial. A interação demonstra respeito e interesse genuíno.

  4. Voz: A entonação, ritmo e volume da voz desempenham um papel significativo na comunicação. Uma voz calma e confiante transmite autoridade, enquanto uma voz empolgada pode inspirar entusiasmo. A voz é uma ferramenta poderosa para enfatizar o conteúdo verbal e criar uma conexão emocional.

  5. Linguagem Corporal: Gestos, postura e movimentos também comunicam mensagens. Uma postura ereta pode indicar confiança, enquanto gestos exagerados podem adicionar ênfase. A linguagem corporal congruente com as palavras fortalece a credibilidade e clareza da mensagem.

  6. Estilo Verbal: O estilo verbal se refere à maneira como comunicamos, incluindo o tom, a escolha das palavras e o nível de formalidade. Adapte seu estilo ao contexto e às preferências do público. Um estilo acessível pode facilitar a compreensão, enquanto um estilo formal é adequado para situações mais sérias.

A utilização eficiente desses canais de comunicação é crucial para estabelecer relacionamentos sólidos, comunicar ideias de forma eficaz e influenciar positivamente as pessoas ao nosso redor. Quando utilizados em conjunto, esses canais criam uma comunicação rica e envolvente, construindo pontes de entendimento e confiança.

Dominar esses elementos contribui para o sucesso em diversas áreas da vida e na construção de conexões significativas com os outros.

Antes de tratarmos sobre como a comunicação não verbal (CNV) influencia o que falamos, é bom destacarmos que ela vem sendo conhecida por diversos nomes ao longo do tempo.

Uma das mais conhecidas expressões que as pessoas usam como sinônimo é a linguagem corporal. Isso se deve, em grande parte, à popularização dessa área do conhecimento e a disseminação do conhecimento na forma de livros de autoajuda.

Na verdade, a linguagem corporal é apenas uma pequena parte desse vasto campo da CNV e se refere, basicamente, aos comportamentos não verbais observáveis.

Clique para ver como a comunicação não-verbal influencia o que falamos

No âmbito acadêmico, a CNV vem sendo considerada como qualquer comunicação além do que se fala ou o que se escreve (DENAULT et al., 2020; MATSUMOTO; HWANG; FRANK, 2016). Como o próprio nome indica, é uma comunicação que não envolve o uso de palavras. Nesse contexto, mesmo não havendo a utilização de signos linguísticos. Pode ser usada no contexto persuasivo para projetar uma imagem, para eliciar emoções ou para criar uma identidade.

Quando recorremos a textos sobre a história da comunicação não verbal, identificamos a existência da identificação da sua importância desde a Antiguidade Clássica. Knapp (2006) nos indica que a atenção inicial sobre a CNV foi desenvolvida no contexto da oratória e do estudo da persuasão, disciplinas muito relevantes para a sociedade grega daquela época.

Como a comunicação não verbal influencia o que falamos?

A comunicação não verbal tem sua importância apoiada nas funções que exerce em relação à mensagens que desejamos transmitir:

a) repetição e ênfase da mensagem verbal

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b) contradição do que foi verbalizado;

c) complementação;

d) substituição;

e) regulação do fluxo verbal;

f) sinalização das relações de poder no espaço físico.

De certa forma, ainda hoje há interesse sobre esse ponto de vista funcional no uso da CNV. Paul Ekman é um dos cientistas de referência nesse campo. Parecendo ter o foco na gesticulação e na sua influência em conjunto com a verbalização, propôs uma lista de seis funções principais (EKMAN, 2004): (1) repetição e ênfase da mensagem verbal; (2) contradição do que foi verbalizado; (3) complementação; (4) substituição; (5) regulação do fluxo verbal; (6) sinalização das relações de poder no espaço físico. Como podemos notar, essa lista de funções está mais associada a situações em que a CNV aparece em concomitância com a comunicação verbal, do que ao seu emprego isolado.

Para repetir uma mensagem, utiliza-se um gesto ilustrador afirmativo (polegar para cima), por exemplo, logo em seguida da mensagem verbal afirmativa. Para enfatizá-la, basta apresentar esse mesmo gesto simultaneamente àquilo que a se dizer.

Um exemplo clássico de contradição da mensagem verbal consiste em afirmar o apreço por determinada pessoa ou causa, mas demonstrar expressões faciais de desprezo ou raiva enquanto fala. Outro caso muito comum, é dizer que “não está nervoso”, entretanto fazê-lo com uma entonação enfática, elevar o volume da voz e gesticular amplamente.

Gestos e expressões faciais podem substituir a verbalização quando “nossa cara diz tudo”. Uma pessoa que chega a casa com uma expressão abatida pode comunicar que teve “um dia e tanto”, sem dizer uma palavra.

A regulação do que estamos dizendo se dá pela sinalização dos momentos pelos gestos. Acenar para uma pessoa esperar para falar é um exemplo, assim como utilizar o silencio como promotor da narrativa de alguém.

Além disso, a CNV se estende para outras fronteiras significativamente importantes no contexto do trabalho. Trata-se de como as relações de poder se manifestam nos ambientes, na forma como organizamos nossa mobília e em como nos dispomos nesses espaços.

Um exemplo muito comum consiste na posição que nos sentamos à mesa de reuniões. Há uma hierarquia de lugares a serem ocupados e todos sabem disso. É necessário, portanto, estarmos alertas para esse mundo invisível dos significados de nossos gestos e movimentos para facilitarmos nossas interlocuções.

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Ainda sobre as funções da CNV, é necessário pontuar que existem outras formas para classifica-las. O que nos parece mais direto e pertinente ao escopo desse trabalho é adotarmos a visão de Matsumoto, Hawng e Frank (2016), que as organizam em: (1) contextualização da comunicação como um todo; (2) como suplemento à comunicação verbal; e (3) como regulador de interações. Essa abordagem nos parece mais ampla do a adotada por Ekman e inclui a dimensão autônoma da CNV, quando ela não age em conjunto com a comunicação verbal.

comunicacao-nao-verbal-linguagem-corporal-cansadoA CNV serve para contextualizar quando canaliza a interpretação sobre como nos devemos comportar em determinado ambiente. É o caso quando entramos em uma sala de audiências cujos móveis e sua disposição nos indicam ser um ambiente formal. Templos religiosos costumam provocar esse mesmo efeito nas pessoas. Nossa aprendizagem cultural sobre como nos comportarmos socialmente, nos indica a forma adequada para interagir em cada situação específica. É o que denominamos de canalização cultural (VALSINER, 2014).

O aspecto suplementar da CNV consiste na sua interação com a comunicação verbal, reforçando-a, contradizendo-a, complementando-a, para mencionar apenas alguns dos efeitos (ou funções) possíveis, abarcando a caracterização realizada por Ekman (2004), sobre a qual já nos referimos.

A regulação do comportamento ocorre por meio da sinalização, quando alguém deseja tomar a palavra em um debate e o mediador indica com a palma da mão esticada para a pessoa esperar.

v-churchilémblema-comunicação não verbalÉ importante destacar a dimensão cultural da CNV, pois os mesmos sinais gestuais podem ter significados distintos em diferentes culturas. Existem gestos que denominados emblemas (EKMAN, 2004), que são culturalmente negociados e que possuem um significado geral conhecido. Por exemplo, o sinal de “V” feito com os dedos de uma das mãos possui significados diferentes na Inglaterra, dependendo se é feito mostrando as costas ou a palma da mão para o interlocutor. O primeiro é um gesto obsceno, o segundo é um símbolo de vitória.

Além disso, a comunicação não verbal se estende para outras fronteiras significativamente importante no contexto do trabalho. Trata-se de como as relações de poder se manifestam nos ambientes, na forma como organizamos nossa mobília e em como nos dispomos nesse s espaços.

O fato de que a CNV tem um forte componente cultural, nos faz vivencia-la no dia-a-dia até não a percebermos e perdermos a consciência de como comunicação não verbal influencia o que falamos. O seu uso cotidiano nos dessensibiliza para a percepção consciente desses indicadores. No entanto, suas funções e a as suas influências não deixam de existir e nós não paramos de sentir os seus efeitos por causa disso.

Observar esses aspectos é de grande importância, pois o ambiente persuasivo e o choque de ideias e das emoções serão regulados por essa camada não verbal. Apesar da controvérsia, há evidências da relação entre a linguagem corporal e as expressões faciais de emoções básicas com o funcionamento do Sistema Nervoso Autônomo (BURGOON, 2018). Assim sendo, há uma possibilidade razoável de que as expressões faciais de emoções básicas revelem as primeiras fases dos nossos estados emocionais (REISENZEIN; HORSTMANN; SCHÜTZWOHL, 2019). Nesse contexto, um orador que, utilizando-se apenas da retórica, tenta defender um ponto de vista, pode deixar transparecer as suas primeiras emoções sobre o assunto. Caso essas emoções reveladas pelas expressões faciais sejam incongruentes com a sua fala, o valor persuasivo da sua oratória pode diminuir em relação à audiência.

Palavras finais sobre como a comunicação não verbal influencia o que falamos

Sob o ponto de vista individual, a principal utilidade da comunicação não verbal para o debate segue a mesma que motivou os gregos a estuda-la, com a oratória, na Antiguidade Clássica: melhorar a qualidade da comunicação e revelar e perceber as emoções durante os debates.

Considerando um contexto mais amplo, entretanto, existem outros aspectos a serem considerados. Com o advento dos meios de comunicação de massa e da Internet, a imagem de determinada pessoa, e seus aspectos verbais e não verbais, influenciam as concepções do público em geral (WINTERSIECK, 2017). Nesse contexto, a omissão ou inclusão de elementos (incluindo artefatos, roupas, móveis etc.), juntamente com a edição da narrativa dos fatos, podem influir diretamente nas atitudes do público em relação à comunicação (IYENGAR; KINDER, 2010). É o que ocorre, por exemplo, de candidatos que são criticados por frequentarem templos religiosos durante o período eleitoral, sendo esse fato imputado como hipocrisia, caso o candidato não seja um religioso. Outro exemplo é a tradicional foto tomando caldo de cana e comendo pastel, em algum mercado popular. Não raras vezes, essas imagens não recebem uma atribuição positiva por parte dos eleitores, principalmente se é conhecido que o candidato não gosta desse tipo de alimentação.

As pistas emocionais observadas a partir do comportamento não verbal das pessoas tendem a ser um elemento decisivo para o enquadramento contextual de sua argumentação ou de suas explicações (BUCY, 2011). Isso ocorre tanto para o público em geral, quanto no meio artístico, político, acadêmico etc.

Para finalizar, é importante destacar que a aprendizagem da comunicação não verbal é positiva e deve servir para que as pessoas melhorem a sua comunicação em geral e a percepção de emoções em particular, sem a preocupação excessiva com o seu uso persuasivo. Prestar atenção a detalhes como não contradizer suas próprias crenças e valores será decisivo para que a entrega das mensagens para as pessoas e a performance no debate político sejam bem-sucedidas.

É necessário, portanto, estarmos alertas para esse mundo invisível dos significados de nossos gestos e movimentos para facilitarmos nossas interlocuções e entendermos como a comunicação não verbal influencia o que falamos.

Referências

BUCY, Erik P. Nonverbal communication, emotion, and political evaluation. The Routledge handbook of emotions and mass media, p. 195-220, 2011.

BURGOON, Judee K. Microexpressions are not the best way to catch a liar. Frontiers in Psychology, p. 1672, 2018.

DENAULT, Vincent; PLUSQUELLEC, P.; JUPE, L. M.; ST-YVES, M., DUNBAR, N. E., HARTWIG, M. The analysis of nonverbal communication: the dangers of pseudoscience in security and justice contexts. Anuario de Psicología Jurídica, 2020.

EKMAN, Paul. Emotional and conversational nonverbal signals. In: Language, knowledge, and representation. Springer, Dordrecht, p. 39-50, 2004.

KNAPP, M.L. Nonverbal communication in human interaction. Neu York: Holt, Rinehart & Winston, 1999.

KNAPP, M. L. An Historical Overview of Nonverbal Research. In: The Sage handbook of nonverbal communication. Sage, 2006.

MATSUMOTO, David Ed; HWANG, Hyisung C.; FRANK, Mark G. APA handbook of nonverbal communication. American Psychological Association, 2016.

REINS, Louisa M.; WIEGMANN, Alex. Is lying bound to commitment? Empirically investigating deceptive presuppositions, implicatures, and actions. Cognitive Science, v. 45, n. 2, p. 1-35, 2021.

VALSINER, Jaan. An invitation to cultural psychology. Sage, 2014.

WINTERSIECK, Amanda L. Debating the truth: The impact of fact-checking during electoral debates. American Politics Research, v. 45, n. 2, p. 304-331, 2017.

IYENGAR, Shanto; KINDER, Donald R. News that matters: Television and American opinion. University of Chicago Press, 2010.

Veja abaixo as nossas matérias sobre Linguagem Corporal – Comunicação Não Verbal:

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