A mentira sob o microscópio | Explorando sua definição

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Muitas pessoas pensam que qualquer alteração da informação, qualquer versão que não corresponda à realidade pode ser considerada uma mentira. Não é bem assim, pois existem outros critérios a serem considerados para que uma versão seja considerada mentirosa. Leia o artigo com atenção, pois será de grande proveito aprender a identificar o que realmente é mentira.

Explore as nuances da mentira. Desvende o que é mentira e como ela influencia nossas vidas. A verdade sobre a enganação espera por você.

Definição do que é mentira

Qualquer controle intencional da informação para se criar um falso entendimento da mensagem (Burgoon, 1994)

Uma tentativa deliberada, sem aviso manifesto, para criar a crença do que o emissor considera não ser verdadeiro (Vrij, 2007)

Três coisas que você precisa saber sobre as nuances da mentira

Decorre das definições acima que temos três elementos essenciais para considerar se alguma informação é mentirosa. Entretanto, muitas pessoas pensam que a mentira é simplesmente contar algo que não aconteceu. Não é bem assim. Para considerarmos que algo é uma mentira, são necessários, no mínimo, os seguintes elementos:

Mentir é um ato consciente

Uma das nuances características da mentira é que ela deve acontecer de forma consciente. Um psicótico que afirma ser Napoleão Bonaparte, e não tem dúvidas disso, não deve ser considerado um mentiroso. Nesse estado, é um doente.

Muitas pessoas por nós consideradas mentirosas compulsivas perdem a consciência sobre as suas mentiras dado o estado de confusão, de sofrimento mental e de possíveis alterações em sua senso-percepção.

Essas, em tese, não são pessoas mentirosas, ao invés disso estão doentes e precisam do devido tratamento, pois não têm plena consciência do que estão fazendo.

Veja o vídeo abaixo:

Esse comercial mostra, de uma forma divertida, a ideia que apresentamos sobre as nuances da mentira. Ela deve ser consciente!

Sobre isso, veja um episódio de nosso Podcast Caminhos Socioemocionais:

Além disso, é importante destacar que, na documentação para registro de psicodiagnóstico (DSM-IV e CID-10) não há uma patologia chamada “mentira” ou mitomania, como muitos gostam de se referir a essa condição. Mentir entra como característica e/ou critério diagnóstico que só ganha sentido acompanhado de outros indicadores.

Muitos mentirosos que estão mais próximos de nós são nossos parentes e amigos. Esse tipo de mentira que está bem perto de nós, na maioria das vezes, não ocorre por que o mentiroso quer nos causar dano.

Essa pessoa altera a informação pela sua própria incapacidade emocional de lidar com a verdade.

Mentir é alterar ou omitir informação essencial

problema-mentiraEnganam-se aqueles que sustentam que omitir não é mentir. Dependendo da situação, a omissão é uma alteração, já que se pretende suprimir informação julgada importante.

Uma das principais características de uma mentira é a alteração da informação original. Alguém, por exemplo, diz que passou pela região “A” ao invés de admitir que lá não esteve. Nesse caso o seu destino foi alterado, o que é uma mentira. Além disso, a omissão também pode ser considerada um tipo de alteração da informação, quando a supressão for significativa para a compreensão da mensagem. Um vendedor de carro que “omite” problemas no motor ou no câmbio pode causar um sério prejuízo à sua aquisição!

Imagine que você precisa decidir sobre um assunto importante. Você está comprando um terreno e o vendedor “esquece” de dizer que há um processo na justiça sobre aquele imóvel. Essa omissão nega acesso a uma informação essencial. O vendedor faz isso intencionalmente, pois sabe que se revelar esse fato, você, provavelmente, desistirá da compra.

A Mentira orienta-se para um objetivo

objetivo-mentiraO terceiro requisito é o mais importante quando queremos identificar as mentiras que podem nos causar muito prejuízo. Normalmente, mesmo nas mentiras consideradas brandas, alguém as conta, pois tem o propósito de influenciar nossas decisões. É um filho que mente sobre o seu destino ou sobre os seus amigos para conseguir o carro emprestado por uma noite, por exemplo.

Igualmente intencional é a mentira do golpista que deseja vender um automóvel com problemas ou um imóvel com dívidas para alguma pessoa. Influenciar o processo decisório dos outros é a principal motivação das mentiras. Conseguir uma decisão, é isso que a maioria dos mentirosos deseja.

Para conhecer mais sobre os golpes e como se proteger, veja:

as-etapas-de-um-golpe-explorando-cada-detalhe-ibrale-450

Considere, então, com cuidado todos esses elementos quando o seu interesse for analisar a mentira.

Siga acompanhando as nossas postagens sobre as nuances da mentira.

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Para saber mais sobre as nuances da mentira:

Burgoon, J. K. (1994). Interpersonal deception. Special issue of Journal of Language and Social Psychology.

DePaulo, B.M., Stone. .1., & Lassiter. D. (1985). Deceiving and detecting deceit. In BR. Schlenker (Ed.), The self and social life (pp. 323-370). New York: McGraw-Hill.

DePaulo. B.M. (1998). Deceiving and detecting deceit: Insights and oversights from the first several hundred studies. Invited address presented at the annual meeting of the American Psychological Society, Washington, DC.

Ekman, P. (1992). Telling lies: Clues to deceit in the marketplace, politics, and marriage (2ed.). New York: W.W. Norton.

Pires, Sergio F. Senna. (2022). A mentira na política. Instituto Brasileiro de Linguagem Emocional.

Pires, Sergio F. Senna. (2023). O que é o detector de mentiras?. Instituto Brasileiro de Linguagem Emocional. 

Vrij, Aldert (2007). Interviewing to Detect Deception: Full Research Report. ESRC End of Award Report, RES-000-23-0292. Swindon: ESRC

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