Muitas pessoas perguntam as minhas opiniões sobre a mentira e sobre os seus impactos na sociedade e nas relações pessoais. Entre muitos aspectos, defendo que não existe mentira inocente, pois qualquer mentira promove dois impactos:
- abala a confiança entre as pessoas quando a mentira é descoberta;
- cada mentira contada prepara o mentiroso para mentir mais e melhor.
É muito importante compreender que, se focarmos apenas em um no qual ocorre a mentira, facilmente chegaremos à compreensão de que existem mentiras que não causam impacto algum nos relacionamentos e que podem ser consideradas totalmente inocentes.
Aqui você vai ver:
O que é mentira?
A mentira pode ser compreendida por meio de três ideias básicas:
- Consiste na alteração, inclusão ou omissão de informação relevante;
- Essas modificações são realizadas conscientemente;
- O mentiroso tem algum propósito com a mentira.
Pela reflexão na terceira ideia, decorre o aspecto mais importante para a nossa argumentação. Quando o mentiroso percebe que seus propósitos são atingidos com a mentira, se vê incentivado a seguir ampliando e melhorando as suas técnicas mentirosas.
♦ CUIDADO
Uma mentira isolada não é o problema. A questão são os sucessivos ganhos que a criança ou o adolescente obtém e que o orientam a novas manipulações futuras.
♦ DICA
A ausência de um dos dois últimos elementos pode conduzir à hipótese que existe algum problema relacionado à saúde mental. Quando se percebe que a pessoa não está plenamente consciente ou que mente sem propósito.
Existe mentira inocente?
É óbvio que nem toda mentira tem elevado potencial danoso. Algumas possuem a função de evitar constrangimentos diante de assuntos que não se deseja tratar.
♦ IMPORTANTE
Entretanto, é quando analisamos o contexto mais amplo, o papel de cada mentira bem sucedida na preparação para outro episódio é que podemos entender que nenhuma delas é inocente. Além disso, o aumento da frequência em mentir vai interferindo na forma como as pessoas avaliam as nossas palavras.
Veja a minha argumentação no vídeo a seguir:
♦ EXEMPLO
Um exemplo disso é o caso dos usuários de drogas que, nas fases iniciais da dependência química, mentem muito para esconder a sua dependência química. Quando essas pessoas estão em fase de recuperação, a família, não raras vezes, desconfia da sua capacidade de recuperação e os trata com desconfiança.
Nesse contexto, as mentiras anteriores acabam por “desqualificar” a pessoa, aspecto o que precisa ser trabalhado na família com a ajuda de um psicólogo competente.
♦ DICA
As mentiras de um dependente químico, geralmente, têm relação com: (1) a manutenção do acesso à substância; (2) a manipulação para seguir financiando o vício; e (3) o autoengano com relação ao controle que têm sobre o uso.
Então, nesses casos, o que regula o comportamento são processos biopsicológicos básicos, não raras vezes relacionados às emoções. Apenas conversar com a pessoa não surte muito efeito, pois os reguladores não são cognitivos, são emocionais.
♦ IMPORTANTE
É por isso que, geralmente, testemunhamos a recuperação do dependente químico depois que chegou a situações extremas. São as experiências emocionais de chegar “ao fundo do poço” que conseguem transformar o núcleo emocional que vinha regulando o uso abusivo das substâncias.
Com o mentiroso contumaz ou com aquele que não obtém nenhum benefício com a mentira ocorre de forma semelhante. A mentira se tornou um vício nesses casos.
Sobre isso, aprofunde, lendo:
A psicologia das mentiras sem razão | Quando a verdade não é opção
Aprende-se a mentir da noite para o dia?
Outra forma de compreender o problema, é considerar que nenhuma habilidade se desenvolve da noite para o dia. Não é diferente no caso do desenvolvimento da capacidade de mentir! Nossa leniência com a mentira pode chegar às raias da irresponsabilidade. Como adultos responsáveis, devemos nos opor à mentira, sem fazer disso, no entanto, um cavalo-de-batalha.
♦ DICA
Um adolescente ou uma criança que são pegos mentindo, por exemplo, não devem ser severamente punidos, mas orientados de que não precisam mentir para conseguir o que desejam.
Esse tipo de abordagem deve ser realizado desde cedo, com calma e sem a raiva que, naturalmente, sentimos nos contextos em que somos vítimas ou testemunhas da mentira.
Por esses motivos, pense bem antes de defender que existem mentiras inocentes e sem importância.
Não existe mentira inocente na medida em que toda e qualquer mentira prepara o mentiroso para mentir mais e melhor.
Veja outras matérias sobre a mentira:
- Sua saúde e a sinceridade | Os benefícios de falar a verdade
- A mentira sob o microscópio | Explorando sua definição
- A psicologia das mentiras sem razão | Quando a verdade não é opção
- Mentira: explorando a complexa realidade humana da dissimulação
- Descortinando a mentira na sociedade atual | Entre a vida diária e a estatística surpreendente
Boa leitura e um abraço
Sergio Senna
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Toda terça-feira, um tópico sobre educação socioemocional, linguagem corporal e emoções.
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Falando de uma maneira bem regionalista: ”bah, que saudade de ler esses artigos”.
Concordo totalmente com o exposto, até pelo fato de que é praticamente inexistente o caso em que uma mentira seja mais útil que a verdade.
A mentira no Brasil é tratada de forma banalizada, chegando a ponto de ser considerada, indiretamente, uma virtude, como o famigerado ”jeitinho brasileiro”. Que não necessariamente importa em mentir, mas muitas vezes é correlacionado com a maneira de tirar vantagem de alguém ou de uma situação.
Sei muito bem que a mentira é uma maneira de escapar de uma situação com a qual se tenha de lidar com um sentimento que não temos ”controle”, entretanto, vejo muitas mentiras sendo objetivadas com quase o mesmo princípio, porém não na falta de capacidade do mentiroso, e sim na falta de capacidade do receptor em lidar com a verdade, a mentira para alguns, nessa situação, acaba se tornando viável.
De qualquer maneira, como disse antes, concordo totalmente com o post.
E espero um dia que o curso seja sediado em Porto Alegre pra eu poder participar. rs.
Obrigado.
Abraços e até mais!