Não sorrir indica mentira?

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A notícia

Não sorrir indica mentira? Você já deve ter ouvido em algum programa de televisão, entrevista com “especialistas” em detecção de mentira ou mesmo lido matérias na Internet que não sorrir é um indicador clássico da mentira.

foi preso por mentira
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Com base nessa “dica”, policiais ingleses prenderam um homem que estava próximo a um pequeno grupo de protestantes e, baseado na sua forma de agir, no seu jeito de se vestir e na proximidade da pista que estava sendo realizada a prova, os policiais fizeram uma prisão preventiva para evitar um possível problema. Pelo menos isso é o que dizia a versão oficial da polícia.

O inglês, de 54 anos, sofre de Mal de Parkinson desde 2010. O desenvolvimento da doença impede que ele realize alguns movimentos na face, o que explica a sua ‘falta de sorriso’. Mark declarou à imprensa que “isso poderia ter sido levado de uma forma melhor. Eu fui preso por não estar sorrindo. Eu tenho Parkinson”. Será que não sorrir indica mentira?

Depois do fiasco, a polícia justificou sua ação, explicando que “uma série de fatores influenciou na abordagem, inclusive o fato dos ciclistas estarem se aproximando, o que aumenta o risco e eleva o nível de segurança necessário – sem contar o fato de ser um esporte elitizado e o número de espectadores presentes”.

Resultado da lambança: Mark foi algemado pelos policias no local da prova de ciclismo, ficou detido por duas horas e acabou liberado sem queixas. Porém, ele não dá o assunto por encerrado, e espera que a polícia se retrate com uma carta em que ela se desculpe e admita que estavam errados, diz a reportagem.

 

Análise sobre a mentira

Muitas pessoas me procuram para aprender a interpretar o comportamento não verbal. Uma boa parcela delas chega aos nossos cursos depois de terem passado por outros treinamentos. Muitos vêm de cursos de programação neurolinguística (PNL) ou de cursos rápidos de profissionais sem conhecimento técnico acerca do comportamento humano. Elas  relatam sua decepção com a prática das análises que lhes foram ensinadas, pois, segundo elas, “não funcionam” na maioria dos casos.

Nesse ponto, o meu trabalho é:

  • melhorar a confiança das pessoas em sua capacidade de análise;
  • redirecionar a atenção da pessoa para os indicadores estudados pela ciência, que darão suporte a análises mais precisas; e
  • esclarecer sobre os mitos da interpretação da linguagem corporal, o que levarão o intérprete indistintamente ao erro.

No caso em questão, os policiais parecem ter passado por algum tipo de “treinamento rápido”, pois prenderam um cidadão, algemando-o simplesmente por não sorrir…. Isso parece um excesso a qualquer um de nós, mas ocorreu de fato.

Deixar de sorrir não é um sinal da mentira. Esses sinais têm relação com a agitação, com o nervosismo e com eles podem ser confundidos. É por essa razão que não é tão fácil pegar um mentiroso (ao contrário do que alguns dizem).

Pegar uma mentira dos filhos é fácil, pois conhecemos a linha de base (sobre isso veja aqui o artigo de Edinaldo Oliveira – Análise do comportamento não verbal e a linha de base ). Entretanto, estelionatários e mentirosos compulsivos desenvolvem habilidades especiais para contarem mentira e não é tão fácil assim reconhecê-los.

 

Venho explicando às pessoas que para ser um bom analista do comportamento não verbal e, principalmente, identificação da mentira, é necessário treino, paciência, percepção aguçada e muito equilíbrio. Não dá para fazer um cursinho rápido de programação neurolinguística sobre a mentira e sair rotulando as pessoas de mentirosas. 

Conheça mais sobre os mitos na Linguagem Corporal

 

Alerto nossos leitores sobre isso, pois esse é um tema que tem se tronado muito frequente no Brasil. Se alguém te prometer que identificar um mentiroso é muito fácil e você achar que é possível, saiba que estará entrando numa fria!

Na maior parte dos casos, quem ensina interpretação da linguagem corporal no Brasil utiliza conhecimento da programação neurolinguística (cientificamente não validado) explícita ou veladamente.

Alguns professores, sabedores que são dos problemas da PNL com a ciência, utilizam seus princípios sem citar a fonte. Em minha opinião, além de não ser ético, chega à beira do engano.  Um dos exemplos mais evidentes é quem ensina o Sistema de Representação Primária (cinestésico, auditivo e visual) sem mencionar que isso provém da PNL.


Os policiais da notícia  foram vítimas do seu treinamento insuficiente e da tomada de decisão precipitada.


Veja alguns outros questionamentos a respeito desse mesmo tema e que foram feitos por Sérgio Senna durante uma entrevista na TV Século XXI (é a primeira pergunta-resposta no início do vídeo a seguir):

 

E você? O que pensa sobre isso? Deixe-nos o seu comentário!

Saudações e prossiga acompanhando os nossos artigos

Sergio Senna

Referências:

JUNIOR, Edinaldo Oliveira. Análise do comportamento não verbal e a linha de base. Instituto Brasileiro de Linguagem Corporal. Disponível em < //ibralc.com.br/web-destaque/analise-do-comportamento-nao-verbal-e-a-linha-de-base/> . Acesso em  27 de agosto de 2012.

PIRES, Sergio Fernandes Senna. Mentiras sinceras nos interessam?. Instituto Brasileiro de Linguagem Corporal. Disponível em. Acesso em: 31 de março de 2012

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