Aparência física e a linguagem corporal | Compreendendo as conexões

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A relação entre a aparência física e a linguagem corporal é um campo intrigante de estudo, pois influencia profundamente a forma como percebemos e interpretamos as pessoas ao nosso redor.

Utilizamos a expressão “linguagem corporal” como sinônimo de comunicação não-verbal devido à sua popularidade.

Entretanto, deve ficar claro para o leitor que, tecnicamente, a linguagem corporal expressa os movimentos e também conhecido como cinésica, que é apenas uma parte da comunicação não-verbal.

A comunicação humana ocorre no contexto de interações complexas que vão muito além das palavras faladas ou escritas. Nesse contexto, a linguagem corporal desempenha um papel fundamental nessa comunicação, pois nossas expressões faciais, gestos, postura e outras manifestações não verbais frequentemente revelam muito mais do que aquilo que dizemos explicitamente.

A importância do estudo da aparência física na linguagem corporal reside no fato de que essas percepções nos influenciam não-conscientemente. Sob o ponto de vista científico, permite a compreensão sobre as primeiras impressões que transmitimos aos outros e como somos percebidos pelas outras pessoas. Neste artigo, exploraremos essa interação fascinante, mergulhando nas maneiras pelas quais nossa linguagem corporal é influenciada por nossa aparência física, e vice-versa. Para guiar nossa investigação, abordaremos o trabalho do renomado psicólogo social Dr. Alexander Todorov.

A relação entre a aparência física e a linguagem corporal é um campo intrigante de estudo, pois influencia profundamente a forma como percebemos e interpretamos as pessoas ao nosso redor.Dr. Alexander Todorov é um pesquisador notável que tem dedicado sua carreira ao estudo da percepção social e da primeira impressão. Ele é professor de psicologia na Universidade de Princeton e é amplamente reconhecido por suas contribuições significativas no campo da psicologia da percepção social.

O Dr. Todorov é especialmente conhecido por seu trabalho sobre as primeiras impressões baseadas em aparência facial. Suas pesquisas e estudos inovadores lançaram luz sobre como as pessoas avaliam características faciais, tais como atratividade e confiabilidade, e como essas avaliações podem influenciar a interação social e a tomada de decisões.

Neste artigo, examinaremos como as teorias e descobertas de Dr. Todorov e outros pesquisadores no campo podem ser aplicadas para compreender como nossa aparência física influencia a percepção de nossa linguagem corporal e, por extensão, como isso afeta nossas interações sociais e comunicação não verbal.

Uma vivência com a primeira impressão

Observe a foto a seguir e reflita se você percebe as 4 faces da mesma forma. Algumas parecem mais ameaçadoras do que outras? Responda SIM ou NÃO e compare a sua resposta com a de outros leitores.

Primeira Impressão - Fase 1

 

Em termos da percepção de AMEAÇA, você percebe diferenças entre as faces abaixo?

aparencia-fisica-e-linguagem-corporal-o-poder-da-primeira-impressao-ibrale-1-450

Primeira Impressão - Fase 2

 

Escolha o número da face que você percebe como mais ameaçadora.
Passe para a próxima pergunta, caso as faces sejam indiferentes para você.

aparencia-fisica-e-linguagem-corporal-o-poder-da-primeira-impressao-ibrale-2-450

Primeira Impressão - Fase 3

 

Depois de realizar esse teste, você acha que está mais consciente sobre as possíveis primeiras impressões?

Opine sobre isso!

Qual é a influência da aparência física na comunicação não verbal

A influência da aparência física na comunicação não-verbal é um fenômeno intrigante que desempenha um papel fundamental em nossas interações sociais. Nesta seção, exploraremos como a primeira impressão, a rapidez com que ela ocorre e a necessidade de estudar esse fenômeno são cruciais para compreender como os preconceitos podem ser construídos e desconstruídos.

Primeiras Impressões: o poder do visual

O termo "primeira impressão" é um conceito profundamente enraizado em nossa cultura e sociedade. Entretanto, pesquisas recentes têm demonstrado que uma das principais fontes não é cultural. Refere-se à avaliação inicial, não-consciente, que fazemos de uma pessoa com base em sua aparência física, antes mesmo de trocarmos uma única palavra. Essa avaliação muitas vezes orienta nossas atitudes e comportamentos subsequentes em relação a essa pessoa.

As primeiras impressões são formadas em questão de milissegundos, e, frequentemente, não estão relacionadas às características ou comportamentos reais da pessoa que está sendo observada.

Pesquisas, como as realizadas por Dr. Alexander Todorov, têm demonstrado que as primeiras impressões são fortemente influenciadas por características faciais, como a atratividade, a confiabilidade e a simetria. A importância dessas impressões iniciais não pode ser subestimada, uma vez que elas desempenham um papel significativo na maneira como percebemos e interagimos com os outros.

As primeiras impressões são rápidas?

O que torna as primeiras impressões ainda mais fascinantes é a velocidade com que ocorrem. Estudos mostram que nosso cérebro é capaz de formar impressões iniciais de outra pessoa em uma fração de segundo. Essas impressões são baseadas em uma série de pistas visuais, como o rosto, a postura corporal, a expressão facial e a aparência geral.

A rapidez com que as primeiras impressões acontecem ressalta a importância de entender como a aparência física afeta a comunicação não verbal e a tomada de decisões.

Compreendendo o fenômeno para desconstruir preconceitos

É vital reconhecer que as primeiras impressões são construções psicológicas do observador e, muitas vezes, não têm relação direta com as características reais da pessoa observada. Isso é um reflexo da influência da sociedade, cultura e experiências pessoais na maneira como interpretamos a aparência das pessoas. As primeiras impressões podem levar a preconceitos e estereótipos injustos, o que é problemático para a sociedade em geral.

Portanto, a necessidade de estudar esse fenômeno é evidente. A compreensão das primeiras impressões, de como elas se formam e de como podem ser influenciadas, é crucial para desafiar preconceitos e estereótipos. Conhecer as bases das primeiras impressões ajuda a desenvolver a empatia, promover a igualdade e combater os preconceitos, permitindo que as pessoas reconheçam as influências culturais e sociais em suas próprias percepções e tomem decisões mais informadas.

Fisiognomia seria uma repaginada nas ideias de Lombroso?

A fisiognomia, assim como as ideias de Cesare Lombroso, é um conjunto de pressupostos que buscam relacionar as características físicas de uma pessoa, particularmente os traços faciais, com características de personalidade ou tendências comportamentais.

Muito embora distantes no tempo em que foram formuladas, essas abordagens compartilham algumas semelhanças, com tentativas de prever o comportamento com base na aparência física. Nesta seção, exploraremos o que é a fisiognomia, destacaremos suas semelhanças com as ideias de Lombroso e faremos críticas à tentativa de predizer o comportamento com base na fisiognomia.

O Que é Fisiognomia?

A fisiognomia é uma prática que envolve a interpretação das características faciais e corporais de uma pessoa para inferir traços de personalidade ou características psicológicas. Historicamente, a fisiognomia foi utilizada em diversas culturas como uma forma de julgar o caráter de alguém com base em sua aparência. É importante ressaltar que a fisiognomia carece de fundamentação científica sólida e é amplamente considerada uma pseudociência.

Semelhanças entre a fisiognomia com as ideias de Lombroso

Uma semelhança notável entre a fisiognomia e as ideias de Lombroso é a tentativa de relacionar a aparência física com traços de personalidade ou comportamentos. Enquanto Lombroso focava mais nas características físicas que supostamente estavam associadas ao crime, a fisiognomia tem uma abordagem mais ampla, buscando analisar uma variedade de características faciais e corporais para inferir traços psicológicos.

Ambas as abordagens compartilham a premissa de que é possível traçar características de personalidade a partir de elementos visíveis na aparência de uma pessoa. Essa premissa, no entanto, carece de base científica e é fortemente questionada pela ciência moderna.

Críticas às tentativas de predição do comportamento por elementos da aparência física

A tentativa de prever o comportamento ou traços de personalidade com base na fisiognomia é altamente controversa e problemática. A ciência moderna demonstrou que não é possível inferir com precisão características psicológicas a partir da aparência física de alguém. A fisiognomia é, portanto, considerada uma pseudociência, que não segue os princípios rigorosos do método científico.

Além disso, tentativas de predição com base na aparência podem levar a estigmatização, preconceito e discriminação injusta. Promover a ideia de que traços de personalidade ou comportamento podem ser deduzidos a partir da aparência física é perigoso e contraproducente, minando o respeito pela individualidade e a diversidade humana.

Repensando a relação entre personalidade, aparência física e a linguagem corporal

A fisiognomia e as ideias de Lombroso compartilham a tentativa de relacionar características físicas com características de personalidade ou comportamento. Ambas as abordagens, no entanto, são criticadas por carecerem de base científica e por sua propensão a promover estereótipos injustos. A ciência contemporânea enfatiza a complexidade da natureza humana e a falta de correlações confiáveis entre aparência física e traços psicológicos. Portanto, é fundamental repensar e questionar a validade de tentativas de predição do comportamento com base na aparência, promovendo uma visão mais justa e inclusiva da diversidade humana.

Qual é papel da cultura na percepção da aparência física e a linguagem corporal?

Ao discutir o estudo da percepção da aparência física, é importante destacar que esse campo de pesquisa evoluiu significativamente ao longo do tempo, distanciando-se das abordagens ultrapassadas, como as de Cesare Lombroso.

Atualmente, o foco recai na compreensão das percepções dos observadores sobre alguém, sem estabelecer uma relação direta entre a aparência física e a natureza intrínseca ou o comportamento da pessoa observada.

Desassociação entre o comportamento, a aparência física e a linguagem corporal

Diferentemente da abordagem de Cesare Lombroso, que buscava relacionar traços físicos com características psicológicas e comportamentais, o estudo contemporâneo da percepção da aparência física enfatiza a subjetividade da avaliação visual. Isso significa que as primeiras impressões baseadas na aparência não indicam quem alguém é ou como se comportará.

A pesquisa moderna em psicologia demonstra que as percepções de uma pessoa sobre outra são orientadas por uma série de fatores, incluindo experiências culturais, preconceitos, estereótipos e até mesmo o contexto da situação.

Portanto, atribuir características específicas de personalidade ou prever o comportamento com base na aparência física é problemático e não respaldado pela ciência contemporânea.

Lombroso e sua abordagem determinista

Cesare Lombroso, um médico e criminologista italiano do século XIX, é conhecido por sua teoria do "homem nato criminoso" e por tentar relacionar características físicas, como formato do crânio e fisionomia facial, a comportamentos criminosos. Sua abordagem é frequentemente criticada por sua falta de fundamentação científica sólida e por seu caráter determinista.

A teoria de Lombroso não apenas carece de evidências convincentes, mas também perpétua preconceitos perigosos, sugerindo que certas características físicas podem prever comportamentos criminosos. Essa abordagem foi amplamente desacreditada pela comunidade científica e substituída por uma compreensão mais sofisticada e ética da relação entre aparência física e comportamento.

Como a aparência física é estudada na atualidade?

O estudo contemporâneo da percepção da aparência física evoluiu de maneira significativa, desassociando-se das abordagens ultrapassadas como a de Lombroso. Agora, compreendemos que as percepções sobre alguém baseadas na aparência são subjetivas, influenciadas por diversos fatores, e não podem ser usadas para prever o comportamento de uma pessoa.

A crítica a abordagens deterministas como a de Lombroso é fundamental, pois destaca a importância de adotar uma visão mais ética e científica sobre a relação entre aparência física e comportamento. Valorizar a individualidade e promover a igualdade são princípios fundamentais no estudo contemporâneo da percepção da aparência física.

Estudos sobre aparência física

Estudos

O que percebemos quando vemos o rosto de alguém?

O que o rosto nos fala?

Lisa Nowak Rugas - IBRALCÉ cientificamente possível afirmar que, na face, há pelo menos dois tipos de elementos que são percebidos durante a comunicação: os estáticos e os dinâmicos.
Os elementos estáticos estão relacionados com o formato do rosto e como a nossa musculatura facial foi se desenvolvendo ao longo dos anos. Na verdade, os chamamos de estáticos impropriamente, uma vez que a sua dinâmica é bem mais lenta, mas o aparecimento de rugas, por exemplo, não é algo "estático".

Uma pessoa que tenha vivido uma vida muito sofrida pode apresentar uma sutil depressão permanente nos cantos da boca, por exemplo.  As fotos ao lado são de Lisa Marie Nowak, oficial da Marinha dos EUA e astronauta, antes e depois do longo processo judicial por tentativa de assassinato.

Pela comparação, pode-se notar a presença dos elementos estáticos da face. Nesse caso, os músculos fixam a expressão depois de um tempo que passam sendo mantidos na posição pelas emoções sentidas pela pessoa.

Lisa Nowak Rugas - IBRALCAlém disso, o formato do rosto também nos comunica impressões sobre nossos interlocutores. O Dr. Alexander Todorov(1) e colaboradores, da Universidade de Princeton, vêm estudando como o formato dos rostos pode influenciar a percepção que temos das pessoas.

Veja o vídeo a seguir e tente perceber se com apenas a mudança do formato  do rosto, há uma alteração na sua percepção sobre a confiança que você teria nessas pessoas.



Todorov defende que  realizamos  juízos sobre a competência de outras pessoas com base unicamente na sua aparência facial. Ele vem estudando a preferência das pessoas por candidatos a governador. Em todos os seus experimentos, os participantes avaliavam os rostos do vencedor e do vice-campeão e era solicitado que decidissem quem era mais competente.

Ao aumentar o tempo para a escolha, Todorov percebeu que não havia grande modificação na decisão dos sujeitos. Com esse método, ele conseguiu alcançar o máximo de  72,4%  de acerto em relação ao que realmente ocorreu nas eleições.  Com esses resultados, ficam abertas oportunidades de estudos sobre a rapidez com que fazemos nossos julgamentos utilizando-nos exclusivamente de indicadores faciais de nossos interlocutores.

Além dos aspectos "estáticos", como as rugas, temos a dinâmica do rosto que diz respeito aos movimentos musculares realizados durante a interação face a face. Veja nosso artigo sobre as rugas:

Diversas pesquisas mostram que essa dinâmica pode revelar nossas emoções no exato momento em que interagimos com outras pessoas, ainda que, intencionalmente, tentemos encobri-las. Essa afirmação se baseia no fato de que não é somente o córtex motor do nosso cérebro que está envolvido nos movimentos dos músculos da face, mas outras áreas também são capazes de produzir movimentos faciais que não controlamos conscientemente.

Referências

(1). Todorov, A., Said, C. P., Engell, A. D. & Oosterhof, N. N. (2008). Understanding evaluation of faces on social dimensions. Trends in Cognitive Sciences, 12, 455-460.

A ciência da atração

Estudos são realizados para descobrir o que nos atrai em um rosto. O que há de misterioso ou de agradável em um sorriso? Por que algumas mulheres têm certa preferência por um tipo de face?

Diversas pesquisas vêm sendo realizadas para descobrir a resposta a essas perguntas. David Perrett e Fhionna Moore pertencem a um grupo de pesquisadores que vêm analisando o mistério da atração e perseguindo o objetivo de descobrir o porquê da atração.

Sabemos que uma face nos atrai, mas por quê isso ocorre? Quais são as características de um rosto que nos passam informações sobre as pessoas?

É comum que as pessoas concordem que não devemos julgar pelas aparências. No entanto, as pesquisas científicas mais modernas mostram que fazemos isso o tempo todo.

Inúmeras vezes, a tomada de decisões sobre as pessoas ocorre antes mesmo de se estabelecer a comunicação verbal.

Isso é sensato? É real? É cientificamente comprovado? Obviamente, o rosto de uma pessoa revela informações básicas como sexo ou a idade aproximada. Mas haverá outro tipo de informação que fica disponível a partir da visualização de uma face? Será que observamos os estados emocionais ou aspectos sobre a saúde de alguém? Além disso, por que achamos alguns rostos mais atraentes do que outros?

A computação gráfica vem auxiliando os cientistas a descobrirem os mistérios do rosto. Cores e formas são digitalmente manipulados com o propósito de ressaltar ou reduzir determinadas características. Com esse material, são elaborados testes de percepção nos quais os sujeitos avaliam as imagens alteradas e emitem a sua opinião sobre a percepção de atração.

Os achados das pesquisas dão conta de que o rosto de alguém pode expressar uma grande variedade de sinais. Foi, ainda, levantada uma notável consistência nas preferências das pessoas pelos rostos.

É certo que os estudos enfrentam uma série de dificuldades éticas, mas os primeiros resultados são promissores. Alguns dados sobre a palidez do rosto indicam que tomamos informações sobre a cor da pele para inferirmos sobre a saúde de alguém. Rostos mais rosados foram indicados como mais saudáveis nas pesquisas.

Um estudo, realizado pelos pesquisadores Craig Roberts da Universidade de Newcastle e Ben Jones, sugere que a pele da face que possua uma aparência saudável é interpretada como indicador de um estilo de vida saudável. Os pesquisadores argumentam que chegamos a essas conclusões inconscientemente, sem mesmo falar com a pessoa.

Em outro estudo, Ian Penton-Voak, da Universidade de Bristol, e Anthony L., da Universidade de Liverpool, pediram a um grupo de voluntários para escolher as palavras que melhor descrevessem sua própria personalidade. As pessoas que se classificaram como extrovertidas tenderam a usar palavras como "quente, sociável, emocional e afetivo, ao passo que aqueles que se classifiquem como introvertidos usar palavras com significados opostos.

Em um segundo momento, foi solicitados que os sujeitos avaliassem fotografias de voluntários e que descrevessem a personalidade da pessoa apenas pela avaliação das fotos. Os achados deram conta de uma alta correlação entre a auto-descrição dos juízes e as mesmas características que pudessem ser encontradas nas fotos.

De forma geral, a avaliação sobre introversão e extroversão foi mais significativa que o acaso. No entanto, os próprios pesquisadores têm o cuidado de ressaltar a importância de não confiar nas primeiras impressões, que podem ser equivocadas.

Fique atento(a), pois traremos informações sobre os mais recentes estudos nessa área.

Competência e Confiabilidade

Seria possível inferir e construir a confiabilidade pela aparência física de alguém? A comunicação é um intenso processo de interação no qual compartilhamos mensagens, idéias, emoções e com o qual podemos influenciar, decisivamente, o comportamento das pessoas. A pesquisa científica atual tem mostrado que a comunicação não verbal pode ter um impacto tão grande ou até mesmo maior do que aquilo que se diz.

Nesse artigo, apresentaremos alguns estudos recentes que trazem à tona alguns critérios de eleição polêmicos e nunca antes estudados no campo da Psicologia. São pesquisas na temática da comunicação não verbal que enfocam alguns aspectos sobre como a aparência física de um político pode causar impacto nas decisões dos eleitores.

Na política, a comunicação é fundamental, uma vez que os políticos atuam como procuradores daqueles que os elegeram. Exercem, portanto, muitas funções nas quais é primordial o uso competente da negociação, da persuasão, da narrativa e da argumentação sobre fatos.

inferir competência e confiabilidade pela aparência física

Esse conjunto de funções, exige do político habilidades especiais no campo da comunicação. Assim, o uso consciente da comunicação tende a facilitar o alcance dos seus objetivos junto aos públicos de interesse.

Acredita-se que o próprio processo democrático eleitoral sirva como um marco de habilitação para aqueles que conseguem melhor comunicar as suas idéias junto ao eleitor. Sob esse ponto de vista, o político eleito pode se considerar como sobrevivente de um processo Darwiniano de seleção natural, onde os mais aptos, segundo a lógica do eleitor, sobrevivem. Mas quais serão os aspectos decisivos dessa lógica?

Nesse contexto, quase todos os políticos estão cientes da importância dos gestos, da posição do corpo e das expressões faciais durante sua interação com o público e com a imprensa. O que pode ser novidade para os brasileiros é o fato de que elementos da face de um político podem ser determinantes para o seu êxito eleitoral, o que é o objeto desse artigo.

Os estudos sobre a influência da aparência física na eleição de um candidato

Todos os estudos na área da aparência física em comunicação não verbal se baseiam no pressuposto de que as pessoas podem inferir as características de alguém através de elementos faciais. Isso inclui a percepção subjetiva de confiabilidade pela aparência física.

Isso não tem nenhuma relação com os estudos de fisiognomia ou frenologia que tentam relacionar as características físicas à personalidade dos sujeitos.

Sobre isso leia o nosso artigo: Frenologia, Lombroso e análise do comportamento

Constituem-se, distintamente, em esforço para elucidar o processo interpretativo que uma terceira pessoa conduz quando vê a face de alguém que lhe é desconhecido. O ponto de vista é apenas da pessoa que interpreta, não tendo essa interpretação qualquer relação com a personalidade ou comportamento da pessoa que é avaliada.

Recentemente, pesquisadores vêm indicando que esses julgamentos, além de ocorrerem, acontecem em frações de segundo. Amambady e Rosenthal (1992) sugerem que os julgamentos sobre o caráter de alguém pode ocorrer quando contemplamos a face de alguém por 30 segundos. Em outro estudo, Bar, Meta e Linz (2006) concluem que 39 milisegundos são suficientes para recolhermos informações e formarmos opinião sobre alguém.

Estudos como estes não procuram descobrir se os julgamentos são acertados, mas buscam levantar se a impressão formada é suficiente para predizer o resultado eleitoral.

Em todos eles, a estratégia metodológica é semelhante. Fotos de políticos são apresentadas aos pares para pessoas que não os conhecem. Após uma rápida olhada no par de fotos, questiona-se a pessoa sobre qual lhe parece mais competente. Os resultados então são tabulados e comparados com o das eleições.

Nesse contexto, Armstrong e colaboradores (2010) realizaram uma pesquisa com estudantes Australianos e da Nova Zelândia, aos quais mostraram candidatos norte-americanos. Os resultados da pesquisa foram coerentes com a vitória de Barack Obama nas últimas eleições. Seus achados sugerem que os partidos políticos podem se beneficiar de disporem de candidatos que possuam as características faciais que nos comunicam competência e confiabilidade pela aparência física.

Anteriormente, Todorov, Mandisodza, Goren e Hall (2005) haviam realizado um estudo, com desenho metodológico bastante similar, em que conseguiram uma previsibilidade perto de 70% em 32 processos eleitorais cujos resultados não eram conhecidos pelos sujeitos da pesquisa.

Em outro estudo, Ballew e Todorov (2007), reuniram imagens de candidatos em eleições estaduais para verificar se apenas a aparência poderia definir o resultado de um pleito.

O teste foi realizado em três fases. Semelhantemente aos outros estudos, os sujeitos analisaram fotos de candidatos que lhes eram desconhecidos. Na primeira fase, pares de imagens do candidato vencedor e perdedor de 89 eleições anteriores foram mostradas por apenas 100 milésimos de segundo e as pessoas deveriam fazer um rápido julgamento sobre qual lhes parecia o mais competente.

Na segunda, o tempo de exposição das fotos foi ampliado para 250 milésimos de segundo e o julgamento deveria ser feito após alguma reflexão. Em ambos os casos, o candidato escolhido, na maioria das vezes, foi o mesmo que havia vencido nas eleições.

Na terceira fase, os pesquisadores refizeram os testes duas semanas antes do dia da votação estadual, em 2006. Neste caso, os participantes tinham todo o tempo que desejassem para definir, apenas pela aparência, quem parecia ser mais competente. Duas semanas depois, o resultado das eleições mostrou que o escolhido no teste também foi o escolhido no voto popular.

Poutvaara, Jordahl e Bergreen (2009) concluíram que, para o caso dos candidatos masculinos, a percepção de competência era um melhor preditor do êxito eleitoral. No entanto, o mesmo não ocorria com as candidatas do sexo feminino, ficando a percepção de beleza como estatisticamente mais significativa na qualidade de preditor do sucesso feminino nas urnas. Nesse mesmo tema, King e Leigh (2009) encontram correlações significativas quanto à beleza, em ambos os sexos, como preditor para o êxito eleitoral.

Antonakis e Dalgas (2009) realizaram um estudo com 841 sujeitos (81% deles crianças pequenas), atingindo resultado de 71% de presivibilidade dos resultados eleitorais. Uma diferença metodológica importante foi que, para as crianças, a pergunta realizada era: quem você escolheria para ser capitão do seu barco? Esses pesquisadores concluíram que as inferências sobre a competência de alguém podem ser aprendidas desde a tenra infância.

Avanços recentes na pesquisa científica sobre a influência da aparência em eleições

Alguns pesquisadores começaram a fazer uma relação entre a aparência física e a voz como influenciadores do processo eleitoral. Mileva e colaboradores (2020) examinaram o papel das características faciais e de voz para  prever o resultado de eleições estudantis. Evidenciou-se que as características faciais, como expressão facial e atratividade física, eram mais importantes na previsão do resultado do que a voz.

Em outro estudo liderado pela mesma pesquisadora, Mileva e Lavan (2022) exploram a rapidez com que as pessoas formam impressões de outremcom base em elementos vocais. O estudo descobriu que as pessoas podem formar impressões de outras pessoas com base em traços vocais em menos de 400 milissegundos. A pesquisa também explorou as características dos elementos vocais específicos que influenciam as impressões formadas, como tom da voz, volume e velocidade da fala.

Masi e colaboradores (2022) também examinaram como a relação largura/altura do rosto e o tom da voz contribuem independentemente para a percepção social. Usando um experimento, os autores descobriram que ambos os fatores tiveram uma influência significativa na percepção social. Eles descobriram que a proporção entre largura e altura de um rosto estava associada a percepções de confiabilidade, enquanto o tom de voz estava associado a percepções de dominância. Amobos os aspectos são extremamente importantes para os políticos.

Conclusão

Nosso objetivo nesse artigo era apenas apresentar alguns estudos que inovam na pesquisa sobre o comportamento da preferência do eleitor.

Apesar da polêmica que o tema pode causar, entendemos que é salutar estudar todos os aspectos que possam influenciar no processo de construção das democracias representativas.

Os trabalhos científicos apresentados indicam que, não importando o que dizem, as pessoas julgam as outras com base na aparência, ainda que não estejam plenamente conscientes disso.

A relevância do tema está relacionada com as consequências desse processo expedito de escolha, uma vez que ele pode influenciar, decisivamente, o resultado eleitoral, sendo, então, possível que não sejamos tão racionais ao escolhermos nossos representantes.

É importante ressaltar que os estudos aqui apresentados não tentam demonstrar que todos os eleitores votam por impulso ou sem levar em consideração suas crenças e valores, mas sim que existem elementos ainda não bem esclarecidos e que são relacionados com a percepção da competência, o que influencia decisivamente o resultado eleitoral.

Os estudos ainda estão em seus primórdios e tenta-se levantar quais seriam essas características da face que interpretamos como indicadores de competência.

Referências

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Considerações Finais

Apresentamos a intrincada relação entre a aparência física e a linguagem corporal, destacando a importância de compreender como nossa aparência influencia a percepção de nossa linguagem corporal, bem como essa percepção afeta nossa vida cotidiana e interações sociais.

Ao fazê-lo, esperamos ter iluminado a complexidade dessa interação e enfatizar a relevância contínua do estudo da linguagem corporal e da percepção social em nossa sociedade contemporânea.

A influência da aparência física na comunicação não verbal é um fenômeno inegável e relevante para nossa compreensão das primeiras impressões, rapidez com que elas ocorrem e a necessidade de estudar esse fenômeno. Ao reconhecer que as primeiras impressões são construções subjetivas do observador, podemos trabalhar para desconstruir preconceitos e promover uma sociedade mais justa e inclusiva.

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Referências

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