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O legado de Darwin para a compreensão das emoções

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Tempo de leitura: 4 min.

Darwin é conhecido mundialmente por sua mais famosa obra: A Origem das Espécies. Nesse livro, defendeu todas as linhas de evidência que conseguiu reunir durante suas viagens ao redor do mundo, que mostrava que os seres vivos descendiam todos de um único e primeiro organismo em comum. De forma que, todas as espécies, de alguma forma, possuiriam um grau de parentesco. E a espécie humana estaria incluída nesse esquema.

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No entanto, alguns anos depois, Darwin publicou outro importante livro: A expressão das emoções nos homens e nos animais. Esta obra representa um insight inédito sobre a emoção humana e a relação desta com as reações presentes em outras espécies, unindo-as não só anatomicamente como fez A Origem das Espécies, mas também funcionalmente. Talvez esse livro seja ainda mais revolucionário quanto o anterior – ou tanto quanto – porque as emoções eram tidas como um atributo de uma alma imaterial, um espírito. Então, atribuir as emoções a algo biológico e, além disso, à uma herança evolutiva para a época foi um grande diferencial.

Inicialmente, essa obra seria um capítulo de A Descendência do Homem, mas começou a ficar muito grande e o autor resolveu transformá-lo num livro separado. A concepção de emoção que ele mostra é muito semelhante à que temos atualmente. Sua primeira grande “sacada” foi conceber as emoções como módulos. Isso quer dizer que cada emoção seria caracterizada por um comportamento específico, bem como um conjunto de mudanças fisiológicas específicas, apesar de na época os naturalistas não contarem com muitos meios para se medir parâmetros fisiológicos.

Darwin também estabelece que cada emoção pode ser manifestada em diferentes graus de intensidade. Em relação a raiva, por exemplo, ele descreve uma série de gradações: fúria, ódio, raiva, indignação e desafio. Contudo, Darwin não disserta muito profundamente sobre se haveriam diferenças fisiológicas e na experiência, em cada uma dessas famílias de emoções. Mas é compreensível, afinal, não havia meios eficazes de se testar esse tipo de coisa.

Outro importante ponto de originalidade e legado de Darwin foi seu foco nas expressões faciais como manifestações das emoções. Utiliza muitas fotos e gravuras para exemplificar as contrações musculares da face, além de observar um pouco também as posturas corporais que denotam determinadas emoções.

Ele mostra, por exemplo, gravuras de cães raivosos, em posição de ataque. Observa-se que a expressão mostrada é muito semelhante à expressão mostrada na raiva, nos seres humanos. Lábios superiores levantados e tensos, com dentes aparecendo claramente e musculatura superior aos olhos (corrugador do supercilho) bem contraídas, apontando para baixo, como um “V”.

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Konrad Lorenz

A comparação com outras espécies é outro ponto instigante em A Expressões das Emoções nos Homens e nos Animais, mostrando bem sugestivamente o quanto somos parecidos. A comparação entre cães e gatos por exemplo também é bem pertinente. O naturalista inglês observa que além das expressões faciais parecidas, numa situação ameaçadora ou em posição de ataque ambos os animais eriçam seus pelos e se fazem parecer maiores do que são. Quando em momentos sem ameaça, relaxados, digamos, eles abaixam a postura, mantendo a causa levantada e a parte dianteira do corpo abaixada, com orelhas em pé. É curioso notar também que ambas as espécies, assim como outros mamíferos, quando brincando entre si, mordendo e avançando uns aos outros, exibam uma postura diferente da exibida quando trata-se de um ataque real.

Mais um ponto, que converge com os achados atuais, é a declaração de que as expressões faciais emocionais básicas são universais. Essa conclusão foi tirada de suas inúmeras viagens a bordo do Beagle, em que observava diferentes pessoas. Durante a pesquisa para escrever este livro, Darwin também contou com a colaboração de vários de seus amigos que encontravam-se em terras distantes, muitas vezes próximos e em contato com cultura que viviam como caçadores-coletores, modo como nossos ancestrais viviam. Por carta, seus companheiros eram contactados e pedia-se que observassem as expressões dos nativos e respondessem à perguntas que Darwin os enviava. Claro que, olhando com os olhos de hoje, esse não é um método científico adequado pois está sujeito a muitos vieses, mas para a época estava ótimo; além disso, seus resultados se encaixam nos resultados atuais, inclusive quanto ao fato de ter observado a existência de gestos e posturas exclusivamente culturais.

Como o etólogo Konrad Lorenz observa no prefácio de uma das edições de A Expressão das Emoções nos Homens e nos Animais, Darwin foi um gênio criativo ao qual não cabe a afirmação  “a verdade de hoje nada mais era do que o erro de amanhã”. As provocações e verficações de Darwin fundaram as bases da atual etologia, mostrando que a herança entre espécies está para além da mera anatomia de seus corpos. A funcionalidade dessas estruturas anatômicas e padrões motores de comportamento também mostram-se herdáveis, apesar de isso de forma alguma excluir os efeitos do aprendizado e da cultura. No entanto, como o próprio naturalista escreve, seu legado vai além da biologia, tocando também na psicologia humana, colocando o estudo de nosso comportamento e emoção em novas e revolucionárias bases.

Este texto foi postado originalmente no Vero.

 


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NOVAES, Felipe C. O legado de Darwin para a compreensão das emoções. Instituto Brasileiro de Linguagem Emocional. Disponível em < https://ibralc.com.br/o-legado-de-darwin-para-compreensao-das-emocoes/> . Acesso em 23 Apr 2024.

Formato Documento Eletrônico (APA)

Novaes, Felipe Carvalho. (2014). O legado de Darwin para a compreensão das emoções. Instituto Brasileiro de Linguagem Emocional. Recuperado em 23 Apr 2024, de https://ibralc.com.br/o-legado-de-darwin-para-compreensao-das-emocoes/.

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