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Breve histórico da detecção da mentira

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Tempo de leitura: 4 min.

 

Não precisamos do Dia da Mentira para mentir, porque mentimos todos os dias. Parece um pouco forte essa afirmação, mas a mentira faz parte de nosso convívio social. Não são somente os seres humanos que mentem: animais, plantas e demais seres vivos também enganam e inclusive possuem táticas de sobrevivência através do engano. O filósofo e psicólogo evolutivo David Livingstone Smith, diretor do Instituto de Ciência Cognitiva e Psicologia Evolutiva da Universidade da Nova Inglaterra, nos EUA, afirma: “Sem a mentira, a vida em sociedade seria um colapso”.

Várias técnicas para a detecção de mentiras foram utilizadas no passado. Na China, 1.000 A.C. suspeitos de crimes eram obrigados a engolir pó de arroz e depois cuspir e, caso a maçaroca estivesse seca, concluía-se que eles tinham mais culpa no cartório pois, naquela época, entendia-se que caso as pessoas sentissem medo, a resposta fisiológica do corpo seria priorizar alguns recursos, e nesse sentido o sistema digestivo não seria priorizado fazendo com que a saliva fosse produzida em menor quantidade. Hoje essa resposta fisiológica é comprovada: em situações de medo nosso corpo realmente reage dessa forma, mas isso ainda não prova a mentira.

Com o passar dos anos muitas pesquisas foram realizadas para identificar a melhor forma de detectar mentiras. Considerado o pai da fisiologia, o grego Erasistrato de Chio (310 A.C.) foi o primeiro anatomista e médico a realizar estudos dos batimentos cardíacos com seus pacientes e, segundo ele, quando esses batimentos aceleravam, era porque os pacientes estavam mentindo.

Nem todos os métodos eram simples e tranquilos, existiam métodos que a pessoa era obrigada a carregar um pedaço de metal quente por uma certa distância ou caminhar sobre brasas ardentes, era considerado inocente se nenhuma ferida aparecesse ou se curasse rapidamente.

franz-joseph-gall-historico-detccao-mentira-ibralcEm 1870, Franz Joseph Gall descobriu uma nova possibilidade de detectar o engano por meio do reconhecimento das emoções. As principais ideias de sua teoria apontavam para o cérebro como o órgão central da mente que pode perceber emoções individuais como emulosidade, ambição, destrutividade e, entre muitas outras, a tendência de mentir e se envolver em comportamento criminoso.

Nesta mesma época, Joseph Gall fundou a Frenologia, chamada também da teoria de craniologia. Em seus estudos ele dividiu o cérebro em 27 áreas diferentes e determinou que existiam funções específicas em cada uma destas partes como: afeto, orgulho, sentimento religioso, habilidade poética e a tendência a matar. Na primeira metade do século XIX, no auge desta teoria, ela foi utilizada para prever o futuro das crianças e selecionar candidatos a emprego como nos dias de hoje são usados os testes de personalidade.

Em 1872 Charles Darwim descobriu em seus estudos uma forma de identificar a verdade através das expressões faciais. Ele descreveu o trabalho de Duchenne, após testes de estímulos elétricos nos músculos principais do sorriso, ele descobriu que o sorriso verdadeiro somente é acionado por um estado emocional legítimo de felicidade.

Criador de uma das maiores heroínas dos quadrinhos (Mulher Maravilha), o americano William Moulton Marston foi também o inventor da ferramenta DISC (Recursos Humanos), e do polígrafo em  meados de 1916. Alguns dizem que o laço da heroína servia para que os criminosos contassem a verdade, sendo uma analogia à sua invenção.

Em meados da década de 1960, Paul Ekman iniciou uma série de estudos com foco nas expressões faciais, gestos e emoções. Em sua experiência, indivíduos foram solicitados a identificar mudanças de comportamento nas expressões faciais e na entonação de voz de uma pessoa que prestava depoimento, e com base nessas evidências, concluíssem se sua afirmação era verdadeira ou falsa.

poligrafo-historico-deteccao-mentira-ibralcO poligrafo começou a ser muito utilizado na década de 1990 nos Estados Unidos, sofreu várias modificações e adaptações ao longo do tempo. Quando utilizado de maneira correta e técnica, pode ser uma ferramenta de notável serventia na detecção de mentiras, mas é preciso analisar e interpretar corretamente os resultados pois, como qualquer método, ele tem pontos sensíveis podendo gerar “falsos positivos”, o que faz com que ainda seja um tanto questionado em muitos países. Como qualquer método utilizado para detecção de mentiras, ele deveria ser usado somente como um complemento dentro de uma estratégia de investigação, mas não como ferramenta única e decisória para afirmar se alguém está mentindo ou não.

Hoje existem aparelhos modernos como o FMRI- Imagem efetuada por ressonância magnética funcional – que consiste em uma técnica específica do uso da imagem por ressonância magnética capaz de detectar variações no fluxo sanguíneo em resposta à atividade neural. Essas mudanças na atividade cerebral foram objetos de um estudo onde foi possível identificar que, durante o ato de mentir, existem alterações muito significativas no cérebro, ou seja, quando mentimos, até mesmo algo que não podemos sentir, como o fluxo sanguíneo cerebral é alterado substancialmente.

Conforme exposto neste artigo, inúmeras pesquisas e métodos não ortodoxos foram realizados nas últimas décadas para detectar mentiras, todavia não há nenhum método simples e 100% eficaz para categorizar se alguém está mentindo. Podemos afirmar que a busca da verdade é um processo investigativo que consistirá na avaliação técnica de sinais identificados na linguagem verbal e não verbal.

 

Referências:

Ekman, P. (2001). Telling lies: Clues to deceit in the marketplace, politics and marriage. New York: W. W. Norton & Company.

Ekman, P. (2011). A linguagem das emoções. São Paulo: Lua de Papel.

De Paulo B. (2014). Como e porque mentimos. California: Summerland,

Darwim C.  (2009). A expressão das emoções no homem e nos animais. São Paulo: Companhia de Letras.  

 

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