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A comunicação além da mensagem

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Tempo de leitura: 5 min.

 

Quando pensamos em “modelo de comunicação”, normalmente vem à nossa mente a ideia de “emissor-receptor”, “mensagem” e “ruído”

Só que o processo de comunicação é bem mais complexo, e devemos entender tudo aquilo que pode contribuir ou não para a sua eficácia

Me refiro à comunicação interpessoal, onde dois ou mais seres humanos trocam mensagens que carregam as suas experiências, suas crenças, suas formas de encarar a vida, seus sonhos e esperanças

De acordo com Dean Barnlund, quando duas pessoas conversam, na verdade existem seis

  1. Quem você acha que é
  2. Quem você acha que o outro é
  3. Quem você acha que o outro acha que você é
  4. Quem o outro acha que ele/a é
  5. Quem o outro acha que você é
  6. Quem o outro acha que você acha que ele/a é

Como vemos, isto envolve muitas percepções, tanto de quem emite a mensagem como de quem a recebe

Tradução: “O que você pensa que eu penso sobre o que você pensa que eu penso que você tem estado pensando?” Copyright © The New Yorker Collection 1996 Michael Maslin

Hoje em dia sabemos da importância de outros fatores além da mensagem, graças à evolução dos modelos apresentados para descrever este processo tão maravilhoso que é a comunicação entre as pessoas

A seguir alguns dos principais modelos:

 

Modelo de Shannon-Beaver (Linear)

Em 1948, Claude Shannon, um matemático americano, e Warren Beaver, um cientista, também americano, escreveram um artigo no Bell System Technical Journal” chamado “A Mathematical Theory of Communication” (Uma Teoria Matemática de Comunicação”)[1]

Este modelo foi desenvolvido para assegurar a comunicação eficaz entre o emissor e o receptor, analisando tudo aquilo que podia interferir o processo (ruído). Eles trabalhavam no Bell Telephone Labs, portanto estavam preocupados com a influência do ruído nas ligações telefônicas.

Os elementos envolvidos eram: emissor, mensagem, canal e receptor. Além de envolver os conceitos de fonte, destino, codificação e decodificação

 

Se imaginarmos uma ligação telefônica, o emissor é aquele que fala, o canal é o telefone, o receptor é onde ouvimos a chamada do outro lado da linha

Todos aqueles sons que prejudicam a qualidade da chamada, denominamos ruído

Era um modelo linear que tinha como o objetivo assegurar a eficiência tecnológica, com sentido único.

Ele começou a ser aplicado para descrever a comunicação interpessoal, entendendo que:

O emissor codifica os símbolos que representam as suas ideias e sentimentos numa mensagem e a envia através de um código (verbal ou não verbal), adotando um canal (como é transmitido o código) a um receptor que decodifica a mensagem, normalmente na presença de ruídos (internos ou externos)

Este modelo sofreu algumas críticas, entre elas:

– O emissor se torna protagonista do processo, o receptor assumindo um papel mais passivo

– Se aplicável, a interações um a um, mas não a grupos ou grandes audiências

– A comunicação interpessoal é um processo bidirecional, como veremos adiante, não unidirecional com o modelo sugere

Em outras palavras, simplifica demais um processo extremamente complexo como é a comunicação entre as pessoas

 

Modelo de Schramm (Circular)

Em 1965, Wilbur Schramm, especialista em comunicação de massa, criou o que chamamos de modelo circular, afirmando que receber a mensagem não é a mesma coisa que interpretá-la.[2]

A mensagem do emissor é recebida pelo receptor, que a decodifica e codifica uma resposta (feedback). Esta resposta é recebida pelo emissor que a responde num processo contínuo.

Schramm introduziu a ideia de que as pessoas se comunicam usando seu próprio background e experiências (percepção), criando uma dimensão nova neste processo

O emissor também é receptor, já que a comunicação interpessoal é um processo contínuo, onde a minha mensagem será influenciada pela mensagem (verbal ou não verbal) do outro

 

Modelo de Barnlund (Transacional)

Em 1970, Barnlund afirmou que tanto o emissor como o receptor são responsáveis por criar significado, e o fazem de forma simultânea.[3]

Este novo modelo inclui os elementos dos modelos anteriores e mais o contexto, ou seja, a situação em que o evento acontece, através de uma perspectiva estreita (a hora, o local, o ambiente físico ou social) ou uma perspectiva ampla (variando de intrapessoal para interpessoal para a comunicação em grupo ou pública)

É um modelo bem mais complexo e bem mais completo, pois leva em conta como a maneira de nos expressarmos vai influenciar a resposta do outro, e como os nossos filtros emocionais podem interferir no processo, inclusive as diferenças culturais

O processo da comunicação se torna dinâmico, imprevisível, ganha vida. Deixa de ser uma simples troca de informações

Os ruídos podem ser psicológicos (pensamentos e emoções) ou semânticos (significado das palavras), além dos inevitáveis ruídos físicos.

Ele afirma que tudo depende da capacidade do homem de interpretar e se situar no ambiente.

Conclusão

Ao interagirmos com o outro estamos interagindo com os seus princípios, crenças e valores. Estamos interagindo com seu emocional, que pode criar barreiras internas ou externas. Estamos interagindo com as suas memórias, seus gatilhos. Suas esperanças e expectativas.

Torna-se extremamente importante fazer uma escolha consciente ao nos comunicarmos, escutando com atenção, confirmando ou não os nossos julgamentos e avaliações (inevitáveis) antes de expressá-los verbal ou não verbalmente

Não podemos esquecer que a nossa linguagem não verbal espelha o que sentimos, portanto, o outro captará sinais que validarão (ou não) as nossas palavras e a nossa conduta

Falhas na comunicação interpessoal têm sido uma das maiores causas dos conflitos no mundo, tanto dentro da família, como nas escolas, nas empresas e mesmo entre países.

Mas não se trata só de evitar mal-entendidos, mas de entender que ela é a ferramenta mais preciosa que temos para nos conectarmos com os outros

E, afinal de contas, a conexão humana é a razão máxima de nosso existir.

 

Referências

[1] Shannon, C., & Weaver, W. (1949). The mathematical theory of communication. Urbana: University of Illinois Press

[2] Schramm, W. (1965). The process and effects of mass communication. Urbana: University of Illinois Press

[3] Barlund. D.C. (1970).  A transactional model of communication. In K. K. Sereno & C. D. Mortensen (Ed.) Foundation of communication theory (pp. 98-101). New York: Harper & Row.

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