Na noite do dia 30 de abril de 2023 o Brasil assistiu perplexo e estarrecido a imagens de extrema violência trazidas ao público no programa Fantástico por meio da perturbadora, mas importantíssima, reportagem intitulada Desafios Perversos[1] – Como o Discord virou ferramenta para envolver adolescentes em um submundo de violência extrema, produzida por Mônica Marques.
Ao introduzir a matéria, o reporter Estevan Muniz dá o seu testemunho:
Quando assisti a esse vídeo pela primeira vez, não imaginava as situações de risco que adolescentes promovem e enfrentam dentro de suas próprias casas. Promovem e enfrentam porque nas várias histórias que você vai ver nessa reportagem tanto vítimas, quanto agressores, tanto manipulados quanto manipuladores, são menores de idade. Que transformam o espaço aparentemente seguro de seus quartos, em palcos de cenas de violência extrema. As redes são convites permanentes aos encontros. Alunos aprendem, cientistas colaboram, amizades surgem e casais se formam, mas essa história é sobre outro lado do ambiente digital. Quando as redes sociais viram espaços perfeitos para a propagação de ódio, violência e crueldade. Essa reportagem também começa com um encontro…..
Assim como o repórter nos conta, assisti perplexo aos comandos que pessoas abusadoras e a imagens perturbadoras, que merecem reflexões profundas de nossa parte, que é o objetivo principal deste estudo que abordará: (1) a violência extrema; (2) a sua presença na Darkweb; (3) a sua emergência para a superfície da Web; (4) a proposta de providências sobre o que fazer.
2. O QUE É VIOLÊNCIA EXTREMA?
A violência extrema é um termo que se refere a atos violentos que ultrapassam os limites do que é considerado aceitável em uma sociedade civilizada. Isso inclui agressões físicas graves, assassinatos, tortura, estupro, mutilação, entre outros atos que resultam em danos irreparáveis ou permanentes à integridade física ou psicológica das vítimas.
Na Internet, a violência extrema pode se manifestar de diversas formas, como em conteúdos que promovem o ódio, a discriminação, a incitação à violência ou ao terrorismo. Alguns exemplos recentes de violência extrema na Internet incluem:
(1) Vídeos de assassinatos transmitidos ao vivo em redes sociais, como o caso do ataque terrorista em Christchurch, Nova Zelândia, em março de 2019, em que Brenton Tarrant, armado, abriu fogo em duas mesquitas, matando 51 pessoas, transmitindo tudo pela Internet.
(2) Grupos extremistas que se organizam nas redes sociais para promover a violência e o terrorismo, como o Estado Islâmico, que recruta novos membros pela Internet e utiliza a rede para divulgar suas ações violentas.
(3) Ameaças de morte, estupro e agressão que são feitas a indivíduos ou grupos nas redes sociais, muitas vezes motivadas por preconceitos, intolerância e ódio. Nesse contexto, o cyberbullying, que pode incluir a publicação de fotos ou informações pessoais humilhantes, comentários ofensivos, ameaças e intimidações.
(4) Jogos online que incentivam a violência extrema, como o “Baleia Azul”, que envolve desafios que, supostamente, culminaram com o suicídio dos participantes. A despeito de não existirem evidências robustas de qual jogo foi o responsável por induzir ao suicídio ou aos atos violentos, fotos de ferimentos autoinfligidos foram postadas nas redes
(5) sociais.
É importante ressaltar que a violência extrema na Internet pode ter graves consequências na vida real, tanto para as vítimas quanto para a sociedade em geral, e deve ser enfrentada de maneira efetiva pelos órgãos responsáveis, pelas plataformas digitais e sociedade sadia como um todo.2. A VIOLÊNCIA PODE SER UM ENTRETENIMENTO?
Desde a antiguidade que a violência serve como entretenimento. Os gladiadores romanos são um exemplo conhecido desse uso da violência. O que nos surpreende é que tais práticas persistam em uma sociedade avançada e democrática. Observa-se que, ainda hoje, a violência é tema objeto de entretenimento. Nesse contexto, se enquadram certos jogos, digitais e de desafios na vida real, cujo tema central é a violência.
É o caso do jogo conhecido por Baleia Azul, que causou preocupação no Brasil e em outros países em 2017. Na época, houve vários relatos de jovens que supostamente teriam sido induzidos a participar do desafio e que acabaram se envolvendo em situações de risco ou tentaram cometer suicídio[2].
Na reportagem que apresentamos ao início desse estudo, podemos notar que os abusadores se divertem com as situações de violência que promovem. Para exemplificar, vejamos as suas falas (a numeração aponta a posição no vídeo):
“Meu Deus, o braço dela [todo cortado]… Mano, que dia bom” [04:20] – O abusador se diverte e considera o dia como “bom” porque a menina está toda cortada.
“Joga no vaso e dá descarga [o gato]. – Não, coitado. – Não vou dar descarga. Bota ele pra nadar aí. Dá descarga, dá descarga, dá descarga.” [04:50] – Os abusadores mostram-se acelerados e tentam motivar a menina a afogar o animal.
“O gato pegando fogo e ela ainda mandando nele (risadas)”. [05:40] – os abusadores abertamente se divertindo com a cena do gato em chamas e com o embaraço da menina em tentar se comunicar com o animal nessa situação.
Esses são alguns exemplos reais. Para escutar, basta ir à entrevista referenciada ao início do estudo e avançar aos pontos indicados pelo contador entre colchetes. A seguir trataremos do perfil da pessoa que consegue de divertir com o sofrimento alheio.
Boa leitura
Sergio Senna
Veja a íntegra do estudo:
2023-das-profundezas-da-web-em-direcao-a-superficie-predadores-em-busca-de-novas-vitimas-sergio-senna-pires[1] Disponível em < https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2023/05/01/desafios-perversos-como-o-aplicativo-discord-virou-ferramenta-para-envolver-adolescentes-em-um-submundo-de-violencia-extrema.ghtml> Acesso em 30 abr 23.
[2] Baleia Azul: o misterioso jogo que escancarou o tabu do suicídio juvenil – El País – 2 mai 2017 – Disponível em:
< https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/27/politica/1493305523_711865.html>. Acesso em 30 abr 23.
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