O chamado polígrafo ou detector de mentiras é um aparelho que mede as variações da respiração, pulsação, pressão arterial e da transpiração, entre outros. Essas variações são relacionadas a estados psicológicos de desconforto ou de estresse, o que, por sua vez, podem ser relacionados à mentira.
No vídeo abaixo o Dr. Sergio Senna apresenta um polígrafo e explica o seu funcionamento:
Vejamos um exemplo de uma pequena sequência de perguntas:
As seguintes perguntas podem ser feitas a uma pessoa chamada José.
Q1-Alguém te chama de José? (Irrelevante)
Q2-Alguma vez você mentiu para uma pessoa em posição de autoridade? (Controle)
Q3-Você já usou drogas ilegais? (Relevante)
Vamos supor que José disse “sim” para Q1 e “não” para Q2 e Q3. Com o aparelho ligado, todas as perguntas são feitas sucessivamente e com cerca de 20-30 segundos de diferença.
O uso da pergunta de controle “você já mentiu para uma pessoa em posição de autoridade?” parte do pressuposto que todos já mentiram pelo menos uma vez para alguma autoridade, nem que seja o pai ou a mãe.
O analista compara as reações fisiológicas ocorridas em Q2 (supondo que José mentiu, pois disse que não enganou nenhuma autoridade em sua vida) com as reações de Q3. Se as variações forem maiores, o analista pode classificar a resposta como mentirosa.
O grande problema dessa técnica consiste na suposta relação entre as respostas e a alteração dos parâmetros do Sistema Nervoso Autônomo (SNA). É realmente possível que, ao mentir, alguém fique nervoso. Entretanto, esse não é o único motivo que pode fazer alguém se alterar diante de uma pergunta. Os analistas dizem que são capazes de “compensar” esses efeitos. Eu penso que isso é muito difícil de realizar e diversos erros podem ser cometidos.
Em minhas aulas sobre a mentira uso um polígrafo de oito canais para fazer um exercício com um aluno voluntário que deve mentir em certas situações e falar a verdade em outras. Além disso, gravamos as suas expressões faciais. Ao final da aula, analisamos as reações do aluno e nos surpreende como a análise das expressões faciais nos mostra mais do que o próprio polígrafo.
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Transcoder do polígrafo | Voluntária no exercício | Explicação do resultado |
É muito importante destacar que o “detector de mentiras” NÃO DETECTA MENTIRAS. Ele mede alterações do funcionamento do SNA.
Alguns alunos me perguntam: Se o polígrafo não detecta mentiras e pode ser impreciso, por que é tão utilizado em países do hemisfério norte?
Essa é uma questão difícil, pois existe muita gente que acredita que seja possível identificar um mentiroso dessa forma. Em minha opinião, o polígrafo é tão empregado nesses países (pelas autoridades e até por empregadores) para criar um ambiente de persuasão. Funciona assim: (1) o candidato ou suspeito acredita que a máquina extrairá a “verdade”; (2) ele é compelido pelo analista a não mentir; (3) acreditando que a máquina é infalível, ele se dispõe a dizer a verdade voluntariamente.
Eu, pessoalmente, não apoio a utilização de tais máquinas e possuo uma para mostrar às pessoas o quão imprecisas são.
Um abraço
Sergio Senna