O que há de mais recente na detecção da mentira?
Recentemente foi desenvolvido, e vem sendo aperfeiçoado, um novo sistema detector de mentiras com uso específico: a inspeção/análise de fronteiras. Este aparelho vem sendo testado no Estado do Arizona, na fronteira dos Estados Unidos com o México.
Trata-se do “AVATAR Kiosk”, que foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Arizona, em colaboração com o National Center for Border Security and Immigration. Segundo o próprio site do desenvolvedor , o “AVATAR Kiosk” é inovador, pois cria a possibilidade de termos um sistema automatizado que pode, naturalmente, interagir com as pessoas, conduzir entrevistas e detectar alterações psicofisiológicas. O quiosque utiliza os chamados agentes inteligentes, intitulados de “avatares”, daí a origem do nome do quiosque. Estes “avatares” nada mais são que simulações da face humana, cuja tarefa é efetuar perguntas as pessoas que pretendem atravessar a fronteira, se utilizando de uma variedade de sensores, não-invasivos, para monitorar as respostas.
Mais do mesmo?

Analisando friamente o quiosque, o mesmo nada mais é do que um aparelho com perguntas pré-programadas, com uma interface simulando a face humana (provavelmente para deixar o entrevistado mais a vontade com a máquina) e uma série de análises fisiológicas (batimentos cardíacos, análise do olhar, aumento do estado de excitação como um todo, etc). Resumindo: é um aparelho polígrafo ou “detector de mentira” autônomo (pois não precisa do agente humano na interação e análise dos resultados).
De acordo com o Dr. Douglas C. Derrick, em sua apresentação sobre o quiosque, o mesmo alegou os seguintes problemas encontrados nos ambientes onde existe a possibilidade de implantação destas máquinas:
Abaixo, segue arquivo original com a apresentação:
[pdf ibralc.com.br/wp-content/uploads/2012/10/present-avatar.pdf 200 280] |
- As pessoas enganam;
- As decisões devem ser tomadas rapidamente;
- Somos péssimos detectores de mentira (independente de sermos novatos ou especialistas);
- Tráfego nas fronteiras irá aumentar bastante nas próximas duas décadas.
Observem na imagem abaixo, como existe um sensor para cada grupo de “pistas” (400 a 500 pistas ao todo cadastradas no sistema) psicofisiológicas e comportamentais. Tal fato reforça a idéia de que o quiosque nada mais é do que um polígrafo tecnologicamente melhor, inclusive, o próprio Dr. Derrick, admite que capturou alguns falsos positivos durante as avaliações do quiosque, e que ajustes ainda são necessários.

Implicações judiciais e possíveis falhas do sistema.
Com as ressalvas das diferenças do sistema judiciário, que mudam de País para País, imagine o quão constrangedor e problemático uma avaliação com resultado “falso positivo”, feita por esta máquina, pode ser para o governo que foi responsável por sua implantação. Algumas centenas de processos, por parte das pessoas avaliadas por esta máquina, podem rapidamente tirar as promessas de “vantagens” obtidas com o uso do quiosque.
Com certeza outras promessas de sistemas detectores de mentira irão aparecer, apenas mudando alguma característica, entretanto, uma avaliação autônoma (apenas pela máquina) eficiente ainda é uma utopia, portanto, o melhor investimento, até o momento, é na parceria entre homem e máquina, ou seja, um profissional capacitado na percepção do comportamento, apoiado nas informações fornecidas por sistemas que captam nosso comportamento fisiológico.
É isto, até a próxima.
Edinaldo Oliveira
Referências:
DERRICK, Douglas C. Avatar-Kiosk. Universidade do Arizona, EUA. Disponível em < https://www2.sis.smu.edu.sg/awards/iss_design_science/nunamaker/present-1-v3.pdf >. Acesso em 10 de outubro de 2012.
PEDERSON, Warren. AVATAR Kiosk Aims to Automate, Augment Border Enforcement. Eller College of Management. Disponível em < https://www.eller.arizona.edu/buzz/2011/feb/avatar.asp >. Acesso em 10 de outubro de 2012.
PIRES, Sergio Fernandes Senna. Quais são as técnicas para detecção de mentiras?. Instituto Brasileiro de Linguagem Corporal. Disponível em < //ibralc.com.br/a-mentira/quais-sao-as-tecnicas-para-deteccao-de-mentiras/> . Acesso em 10 de outubro de 2012.
Projeto Quiosque AVATAR. Universidade do Arizona. Disponível em < https://ots.cmi.arizona.edu/>. Acesso em 10 de outubro de 2012.
National Center for Border Security and Immigration. Universidade do Arizona. Disponível em < https://borders.arizona.edu/cms/ >. Acesso em 10 de outubro de 2012.
Como citar este artigo:
Formato Documento Eletrônico (ABNT)
Prezado Edinaldo, me congratulo com você pela inteligente abordagem desse tema.
Quando vi o subitem “Mais do mesmo?” pensei no sem número de pessoas que já passaram pelos métodos “infalíveis” de detecção de mentiras e que tiveram um “falso positivo”.
Eu mesmo, em cursos para policiais federais, ouvi narrativas de alguns deles que tiveram que passar por polígrafos (para fazer cursos do FBI, por exemplo) e tiveram experiências ruins.
Entendo que foi bem levantada a questão da necessidade de “dar escala” às análises, pois a quantidade de pessoas que atravessam as fronteiras norte-americanas somente tende a crescer. Entretanto, como muito bem levantado em sua argumentação, pode haver um interesse econômico poderoso atrás da instalação e da manutenção dessas maquinas.
Além disso, a quantidade de sensores, mede o mesmo parâmetro primário, espero que os nossos leitores tenham entendido isso, que é a ativação do Sistema Nervoso Autônomo (SNA).
Justamente por que o SNA é ativado é que ficamos mais quentas na face e mais frios nas extremidades, por isso o nosso coração dispara e nossa pressão sobre. Estamos medindo mais do mesmo!
É uma excelente reflexão.
um abraço
Sergio Senna